Não me recordo de uma única vez em que tenhamos conversado sobre o que quer que  seja em que eu tenha ficado na mesma. No sábado, em Fátima, voltei a ver um dos meus mestres e claro que tinha que ir ter com ele. "Então como andas?" "Bem. Sem ressentimentos", disse-me, enquanto, como é seu timbre, o seu olhar vagueia. "E isso é o mais importante, não ter ressentimentos. Aceita-se o que nos acontece e vive-se com isso." Vindo de alguém que vi a primeira vez com meia centena de miúdos à volta a fazer a caça ao leão, isto não é resignação. É aceitação, mesmo. É sabedoria.
Viver com ressentimento é desperdício. Podemos sentar e lamentar, podemos chorar, podemos até perguntar porquê eu, não podemos permanecer aí. É desperdício. Não é que nos acontece que determina quem somos, mas o que fazemos com o que nos acontece. A forma como reagimos ou não, a forma como levantamos, a forma como vivemos depois de levantados, isso sim é determinante, não apenas para nós mas sobretudo para quem nos rodeia, e ainda mais para quem nos viu caído. Não é por vingança ou revanchismo ou orgulho. É fé. Esperança. Confiança. Em Deus, nos outros, em si próprio. É aqui que reside a força imensa que não permite que deixemos de caçar o leão. Porque é sobretudo na dificuldade que podemos ser mestres. De nós próprios. Dos outros. O Gaspar é um dos meus. Deus seja louvado!

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