Nunca consegui perceber a luta obstinada de muitas pessoas que eu conheço e admiro contra as redes sociais. Percebo que para algumas pessoas pode complicar a sua socialização mas creio - acredito, sem dados fidedignos, claro - que essas pessoas teriam sempre problemas de socialização porque sempre houve pessoas com problemas de socialização.

Entre outras coisas, não percebo porque a presença física é mais importante que a a presença distante, particularmente se existe intimidade na partilha mútua de vida e sentimentos. Porventura será até mais fácil essa partilha na distância dos olhares mas na proximidade das almas. Claro que se pode argumentar que essa intimidade é ficcional, mas se a proximidade física fosse garantia de autenticidade apenas agora, com o advento das redes sociais, teríamos problemas nessa área. E não me parece que seja essa a história da humanidade.

Vem tudo isto a propósito da morte do Pedro Rolo Duarte. Claro que não no conhecia o sentido físico do termo, nunca estivemos juntos. Mas quando ouvi uma entrevista do meu filho na Antena 1 e reconheci imediatamente a voz do PRD, ao orgulho natural de pai juntou-se o orgulho de um dos meus filhos ter sido entrevistado por um dos jornalistas que mais admirava e acompanhava desde sempre - e que o meu filho não fazia a mínima ideia de quem era!

Ontem senti o toque ao saber da morte do PRD. E hoje, ao ler os meus habituais jornais e blogues - um dos meus maiores prazeres nas manhãs de fim de semana - não consegui evitar uma sensação de perda. Não quero saber se não o conhecia, se não tínhamos laços familiares  - esses sim, a maior parte das vezes artificiais para mim - nem se ele nem sabia da minha existência. Fazia parte das pessoas que eu admirava e lia e contribuía para a construção de mim enquanto pessoa - muito mais do que a maioria dos meus familiares.

Como sempre acontece com as grandes revoluções, estranhamos a mudança de paradigma. Neste campo, parece-me que os laços de sangue são hoje cada vez mais ténues, menos decisivos para a construção do que somos enquanto pessoas, e enquanto sociedade. A desagregação da família dá lugar a uma outra noção de pertença. Hoje podemos ter enriquecedoras trocas de ideias e partilhas mais pessoais com pessoas com quem nunca nos cruzamos fisicamente. Com quem apenas nos cruzamos espiritualmente, "almamente". Há quem tema isso. Eu acho fascinante.

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