Peço desculpa quase compulsivamente. Em princípio, a culpa é minha. Não importa se fiz ou não fiz, se disse ou não disse, se menti ou ocultei, se estive atento ou olhei para o lado. Se alguém está mal, a culpa, em princípio, é minha.

"Estou triste" e imediatamente há uma tempestade mental, uma busca nos arquivos, nos ficheiros, nas imagens e palavras. Revejo conversas e sinais à procura de coisas passíveis de serem mal interpretadas, ou de pés pelas mãos - eu sou ótimo nisso - e não encontro. Não naquela fração de segundo. Não importa que não encontre, tenho a certeza que a culpa é minha, não cuidei, não estive atento, meti água mais uma vez. "não é por tua causa". Meio alívio. Será? A cabeça não pára à procura de motivos. Abundam. Suspiro e preparo-me para escutar. Se for para me dar na cabeça, seja. Mesmo que não seja assim tão culpado desta vez sou-o de alguma forma. Sou sempre culpado, de alguma forma. Se é para me dar na cabeça é porque mereço.

Espero que vá sendo cada vez menos assim, à medida que a idade avança e a velhice vai tomando o seu lugar. Talvez a velhice traga consigo uma maior sabedoria, uma mais profunda serenidade. Espero que seja isso e não um adormecimento mental, ou sensorial. Talvez seja mais uma aceitação. Espero que não haja uma rendição. Espero que a minha intrínseca culpa vá progressivamente sendo substituída por um "o que for será", que não seja um "inevitabilismo" mas uma tranquilidade de quem percebe que a vida tem alturas em que segue um curso próprio e que mais vale gastar as energias naquilo que podemos efetivamente mudar. E que, por muito que se tente, haverá sempre lugar para contentamentos e descontentamentos, felicidades e infelicidades, alegrias e tristezas. E que, com sorte, haverá sempre alguém que goste de mim.

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