Nesta Igreja que eu amo e na qual vivo mergulhado até ao pescoço, há coisas das quais me orgulho e outras das quais me envergonho. Nada de mais, acontece com a minha própria família e, creio, com todas as famílias: decisões que não subscrevemos, pessoas que não reconhecemos como sendo de bem, companhias e conversas com as quais não nos identificamos minimamente e preferimos que não existissem.

Hoje, no carro a caminho daqui, tive este misto de sensações. Por um lado, orgulho pelo Dia Internacional da Pobreza. Eu, que até tenho saudades de Bento XVI, orgulho-me deste papa que, de certa forma, entende melhor o nosso tempo, particularmente na forma de comunicar em soundbites. Desde sempre que os pobres e os de sinal menos na vida são o motivo de agir da Igreja. Não é novidade para ninguém. Mas ser este Papa a dizê-lo, particularmente alicerçado na forma como viveu a sua vida e o se papado, ganha um outro impacto e uma outra efetividade. Orgulho, portanto.

Mudo de emissora e sinto vergonha. O nosso cardeal diz liminarmente que desaconselha os homossexuais no acesso ao sacerdócio. Coro de vergonha e tento ler a notícia, porque as coisas podiam não ser bem assim. Leio que, com a mesma facilidade e naturalidade com que fala do caso do padre que foi pai - e ainda bem -  afirma a sua quase repulsa no acesso ao sacerdócio pelos homossexuais. No primeiro caso recorre até aos casais que, por "acidente", têm um filho fora do casamento. Acontece! Foi um descuido! Um homem - e um padre é um homem - não é de ferro! E sabemos como são as mulheres, não é?  No passa nada, sobretudo se houver a firme intenção de reassumir a fidelidade. Agora, um homossexual ser padre, vade retro! Um homossexual, como todos sabemos é um ser perfeitamente incapaz de controlar a sua sexualidade, sempre a viver na sombra da promiscuidade, à procura de uma oportunidade para seduzir incautos. Não é bem um homem (ou mulher), é sobretudo um pecador. Vergonha. Enorme vergonha.

Anseio o dia em que, finalmente, olhemos para as pessoas tal como elas são, na sua circunstância, sem a ânsia de as catalogarmos. Creio que era isto que Jesus fazia.

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