Estávamos na arena, em plena hora do almoço, abrigados da chuva miudinha que caía. A cruz no chão, algumas velas acesas, uns papéis com cânticos, meia dúzia de miúdos sentados no tapete de relva artificial, meia dúzia de graúdos sentados nas escadas do anfiteatro. Cantamos serenamente, baixinho, falamos serenamente, baixinho, rezamos serenamente, baixinho, saímos como aí tínhamos permanecido, serenamente, em silêncio.

Tenho aprendido que as coisas grandes são dos homens, não de Deus. Quando, numa visita a um museu de arte sacra, vi um monte de cálices em ouro e prata com jóias raras incrustadas, apenas conseguia pensar o que tinha aquilo tudo a ver com o cálice de Jesus. É irónico como amamos um Deus, que, sendo infinitamente grande, se faz pequeno por nós e para nós e O veneramos com o maior e mais opulente que conseguimos fazer. Mesmo as nossas celebrações têm que ter um quê de grandioso, de um litúrgico ininteligível que pensamos nos abre ao mistério quando na realidade nos afasta do Mistério que é um Deus que escolheu ser um de nós. Como é possível entendermos isso? Nós, que tanto queremos ser deuses, teremos alguma vez capacidade de perceber a loucura de um Deus que se quis fazer homem? Quem no seu "perfeito" juízo, podendo ser Deus, escolhe ser homem?

Estávamos na arena, em plena hora do almoço, e recordávamos como podemos acolher, como devemos acolher, como somos todos chamados a acolher. Na simplicidade dos gestos pequenos, na humildade de quem sabe que pode sempre dar, na generosidade de quem sabe que pode sempre acolher. E na certeza que o nosso Deus escolheu sempre manifestar-se no mais pequeno. Dos gestos, das atitudes, do silêncio, das pessoas.

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