Falávamos ontem de alguém que, por mais que tente, não consegue atingir os seus objetivos. Está já naquele ponto, que muitos de nós já conhecemos, de prévia certeza que tudo vai correr mal, que tudo vai redundar em mais um falhanço a toda a linha. E contribui assim, ativamente, para que efetivamente falhe.

Na minha vida tive recuei muitas vezes. Já fugi, já me escondi, já me refugiei, já procure forças e lugares e pessoas diferentes para recomeçar a partir de coisa nenhum,a onde não me conhecessem, com quem não me conhecesse, numa tentativa de me dar a mim próprio uma oportunidade de fazer diferente. Da última vez que o fiz, no meu último reset, fui ganhar cerca de um terço do que ganhava até aí e não me importei minimamente com isso. O que me importava era mesmo recuperar-me, aos meus olhos e aos dos outros, e para isso o sucesso profissional, visto pelo comum dos prismas, visto pelos outros, era-me perfeitamente escusado. Muito mais que do sucesso, eu tinha saudades era de mim mesmo,

É preciso estar lá, saborear a derrota, sentir na pele o desespero, para saber como é. E é sempre diferente! Foi isso mesmo que eu disse à minha filha, ontem, enquanto conversávamos. Por muitas e boas teorias que tenhamos, por muitos livros e cursos e formações e ideias e convicções que tenhamos, não há nada como estar lá, completamente perdido, para saber como é. E é sempre diferente! Mesmo connosco, que somos (mais ou menos) a mesma pessoa, alteram-se as circunstâncias é é diferente, quanto mais com alguém que não conhecemos assim tão bem, com alguém de quem gostamos bastante, que estamos ainda a descobrir, aos poucos, à medida que nos vai permitindo, mas que estamos longe ainda de conseguir ler com o mínimo de profundidade que a situação exige.

Há pouco tempo vi-me seriamente atrapalhado. Alguém em quem reconheço uma sabedoria profunda, para quem olho sempre que tenho fome e sede, e em quem encontro sempre motivo para tentar imitar, veio ter comigo para conversar, com um pedido de ajuda implícito, como se eu pudesse souber a resposta para o que quer que seja. Dispus-me a escutar, atentamente, tentando descortinar o que poderia eu dizer que fosse suficientemente sábio e profundo para ajudar. Acabei por permanecer calado, como quase sempre me acontece, rendido aos meus limites e à minha consciência que qualquer coisa que dissesse apenas aumentaria a confusão.

Tenho muito respeito por quem anda à procura. Por quem está descontente com o seu rumo, porque está atrapalhado, por quem tem dificuldade em se definir e em se encontrar, ou, tendo-se encontrado, está momentaneamente perdido. E sofre com isso. Tento resistir sempre a dar palpites, que quando, ainda assim, me saem da boca para fora, soam-me sempre a filosofia barata e bacoca. A maior utilidade da minha parte talvez seja fazer sentir que é importante dar tempo ao tempo. Deixar que as coisas aconteçam na medida em que as vamos conquistando. Que por vezes o recuo é apenas aparente e que, mesmo quando é derrota, é importante sentirmo-nos derrotados e chorarmos porque as coisas não correram bem. Mas que amanhã é um outro dia e que é importante que vivamos as alegrias com a mesma pujança e intensidade com que sofremos quando perdemos. E apenas há uma maneira sábia de fazer sentir isto tudo. Permanecendo. Em silêncio, quando necessário, intervindo quando em queda. E testemunhando. O ressurgimento da vida em cada um.

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