Vejo balões e vejo-me miúdo, solitariamente traquina, a fazer do tempo sonho e dos sonhos tempo, mergulhado nos imensos livros que me faziam companhia e a partir dos quais viajava, intensa e frequentemente. Lembro-me do meu amigo Dom Quixote, com quem muitas vezes me acho parecido, correndo atrás do que rapidamente se esfuma, cego e surdo à realidade que os outros, infrutiferamente, teimam em me colocar à mercê dos olhos e dos ouvidos. Alegremente mergulhado nessa espécie de sonho e ilusão, quero ignorar o mundo que se passa lá fora, fora de mim e do que se passa dentro de mim, como se nada mais existisse, como se nada mais contasse, como se nada mais importasse, porque naquela altura nada mais importa, mesmo. Não fosse a inevitabilidade da imposição da realidade que demonstra que os moinhos de vento não passam de moinhos de vento, e acreditaria que poderia viver assim para sempre. Não fosse o ter que aterrar, por vezes violentamente, e ter que me confrontar com as consequências dos meus voos, e desejaria viver assim para sempre.
Duas coisas que quero fazer. Ainda. Que hei de fazer. Espero. Balonar. Sozinho, se possível. Navegar. Sozinho, se possível.  

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