Quase que aposto, de olhos fechados, que sorris neste momento. Como o criador sorri quando se depara com a criatura. Sim. É (também) a pensar em ti e no que conversamos que estou agora aqui. Também mas não só. É sobretudo porque, depois do que conversamos, depois do que li, pensei que não era justo eu esconder-me dos olhares alheios enquanto me regozijo com a exposição alheia. Porque sabemos ambos que é disso, afinal, que se trata: expomo-nos nas palavras para que consigamos, por entre letras, por entre dentes, descobrir os sentimentos (ou, se tivermos muita sorte, que nos descubram os nossos).

Mas é também porque te li e gostava de te dizer que, apesar do medo do mergulho, também tu és uma história abensonhada. Ainda com muito de sonho, é certo, ainda com muito de medo, de procura, de projeto, de avanços e recuos, de tactear para tentar chegar, de dúvidas e mais dúvidas, e de confrontos - por vezes penso que os teus últimos anos têm sido essencialmente confronto! Mas tem sido também uma história abençoada. Pelo que espalhas, pelo que transmites, pelo que enriqueces e desinstalas.

E depois há a "nossa" história. Totalmente incomum, aparentemente desigual, como se tivesse apenas um sentido quando, na realidade, todo o sentido é sentido desde (quase) sempre. Uma história que, tal como nos livros de Carré, tem reviravoltas, tem partidas e chegadas, enlaces e desenlaces, e fins nunca à vista. Feita de cumplicidades e entendimentos e frequentemente mal entendida, mas que sobrevive, agora de uma forma diferente.

Porque na vida, à medida que o tempo passa, tudo é diferente.


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