Tenho-me deliciado com o último livro do José Tolentino Mendonça: Nenhum Caminho Será Longo. Adoro quando encontro nas palavras aquilo que sinto há muito tempo e nunca consegui exprimir adequadamente. É um livro que tenho vindo a saborear, com muito calma, pausadamente, profundamente, como convém. E que me tem levado a revisitar - ainda que apenas cá por dentro - novos e velhos amigos à medida que o vou lendo.

Quem me conhece sabe como prezo a amizade. Como tenho vindo a aprender a vivê-la, solta, sem amarras, completamente livre, como deve ser. E também como por vezes é mal entendida, confundindo-se liberdade para ser e para estar com desinteresse. A amizade, que tenho a sorte de ser quotidianamente demonstrada, alimenta muito do que são os meus dias e torna o meu quotidiano muito mais feliz.

No entanto, tenho que confessar que não é a amizade que me sustém, mas o amor. Ainda ontem, ao final da tarde, fomos todos jantar ao McDonald's. Foi mais uma oportunidade de construção desta coisa complexa e por vezes complicada que é a família. Intercalamos conversas sérias com brincadeiras parvas, rimos como inconscientes para logo de seguida nos solidarizarmos uns com os outros, falamos de tudo e de mais alguma coisa, voltamos a perceber que todos somos, efectivamente, parte de todos, que ninguém é supérfluo, que ninguém é dispensável.

A noite, no entanto, não acabou sem uma outra componente muito nossa: uma boa discussão. Que, contrariamente ao que muitos porventura pensam, não abala o que somos enquanto família mas, pelo contrário, consolida, cimenta, ajuda a perceber a importância que a vida de cada um tem para todos, que o futuro de cada um tem para todos, que não há vidas separadas, não há um "é comigo" mas tudo "é connosco".

Na página 15 do "Nenhum Caminho Será Longo" podemos ler que "o regime dominante do amor é o do tudo ou nada". Não tenho qualquer dúvida. Por muitos e bons amigos que tenha - e tenho a Graça de os ter -, por muito que eles sejam fundamentais para me alegrarem os dias, é na Isabel e nos meus filhos que deposito todo o meu ser.

Arrisco tudo?
Claro que sim.
Mas amor sem "tudo" não é amor.
É amizade.
É diferente.

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