20120216
Gosto de fotos assim, fora do comum, desafiantes, que me desmontam os conceitos tão laboriosamente construídos para minha própria segurança. Gosto de ser interpelado, levado mais longe, desencaminhado, incomodado, levado a pensar o impensável, a sentir o insensível, a questionar o absolutamente certo e seguro.
Desde há muitos anos que aplico na vida a velha máxima dos actores de Hollywood: "não há papéis menores, apenas há actores menores." Acredito piamente que na vida nada é menor, que nada é insignificante, que tudo contribui para a construção da pessoa em que nos tornamos.
Talvez por gaguejar, cedo aprendi a desconstruir as evidências. Aquilo que para uns é absolutamente garantido - um discurso fluido - para mim é resultado de uma escolha criteriosa de palavras; aquilo que para uns é anormal - o simples acto de gaguejar - para mim é a normalidade; aquilo que para uns é choque e surpresa - gaguejar não acarreta nenhuma evidência física e vejo sempre o olhar das pessoas quando me ouvem a primeira vez - para mim é o absolutamente esperado. Esta desconstrução das evidências, que já me é intrínseca, foi naturalmente transportada para todos os aspectos da minha vida. Por isso normalmente gosto do que mais ninguém gosta, penso o que mais ninguém pensa, com tudo o que isso implica. Como quando vi esta foto.
Fotos assim, que me desafiam, que me desmontam e me interpelam ajudam-me a ganhar o dia.
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