Gosto de fotos assim, fora do comum, desafiantes, que me desmontam os conceitos tão laboriosamente construídos para minha própria segurança. Gosto de ser interpelado, levado mais longe, desencaminhado, incomodado, levado a pensar o impensável, a sentir o insensível, a questionar o absolutamente certo e seguro.

Desde há muitos anos que aplico na vida a velha máxima dos actores de Hollywood: "não há papéis menores, apenas há actores menores." Acredito piamente que na vida nada é menor, que nada é insignificante, que tudo contribui para a construção da pessoa em que nos tornamos.

Talvez por gaguejar, cedo aprendi a desconstruir as evidências. Aquilo que para uns é absolutamente garantido - um discurso fluido - para mim é resultado de uma escolha criteriosa de palavras; aquilo que para uns é anormal - o simples acto de gaguejar - para mim é a normalidade; aquilo que para uns é choque e surpresa - gaguejar não acarreta nenhuma evidência física e vejo sempre o olhar das pessoas quando me ouvem a primeira vez - para mim é o absolutamente esperado. Esta desconstrução das evidências, que já me é intrínseca, foi naturalmente transportada para todos os aspectos da minha vida. Por isso normalmente gosto do que mais ninguém gosta, penso o que mais ninguém pensa, com tudo o que isso implica. Como quando vi esta foto.

Fotos assim, que me desafiam, que me desmontam e me interpelam ajudam-me a ganhar o dia.

Comentários

Mensagens populares deste blogue