Estou sempre a desmistificar.

Contrariamente ao que pensava antes de partir, muito do que ficou de Moçambique tem também a ver com sensações e não apenas com sentimentos.

Claro que tenho imensas saudades nossas, claro que é muito frequente ficar com cara de totó enquanto revisito as nossas orações, as nossas refeições, as nossas brincadeiras, claro que muitas vezes dou por mim como que teletransportado para as nossas caminhadas quotidianas, para as nossas conversas ao luar, para as nossas partilhas profundas. Tudo isso, que são sentimentos, é uma presença constante na minha vida.

O que eu não contava é que as sensações também o passassem a ser. Não consigo ver uma palmeira sem sentir Moçambique - e não foram assim tantas as que vimos! - não consigo ver ou ouvir falar numa ONG sem sentir Moçambique, não consigo estar num eucaristia dominical sem me apetecer bater aquelas palmas ritmadas de Moçambique. Moçambique, mais que uma recordação, tornou-se uma presença tão forte que quase consigo sentir os seus cheiros, o seu clima, o seu ruído e confusão naturais.

Ontem, em conversa, dei comigo a dizer aquilo que jamais diria quando cheguei de Moçambique: que não coloco fora de hipótese ir para lá no futuro. Parece que, afinal, Moçambique se me colou à pele mais do que esperava. Parece que agora, para além de ter que lidar com a tremenda saudade que tenho das pessoas, de todos nós - dos que voltaram e dos que ficaram - tenho também que aprender a lidar com esta coisa, para mim inteiramente nova, que é a saudade dos lugares, dos cheiros, dos sons e do ambiente.

Hoje, precisamente hoje, faz seis meses que nos despedimos de Quelimane. E Quelimane, faz hoje, cada vez mais, parte de mim.

De todos nós.

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