Suicidou-se. Não morreu, suicidou-se. É muito diferente! Para quem fica. E quanto mais íntima a ligação, maior a diferença, exponencial a culpa. Suicidou-se.

Recuo sempre. Ao choque, inacreditável, de um outro suicídio, ou pretenso suicídio, porque nunca soube a certeza, porque nunca perguntei, porque na altura não me pareceu assim tão importante. Devia ser. Se ainda hoje recuo imediatamente àquele dia, devia ser importante saber. Sei que me recordo como se fosse hoje a questão que imediatamente me assaltou. Onde estava eu? Porque não me ligou? Porque não falou comigo? Será que tentou? Quando foi a última vez que conversamos? Como foi a última vez que conversamos? Conversamos? Tive tempo, dei tempo para conversarmos?

Ontem, depois de conhecida a notícia, dei comigo a pensar na eutanásia. Preferia mil eutanásias a um suicídio. Talvez na ilusão que no processo da eutanásia a solidão está ausente. Uma visão romântica, de certeza, mas ainda assim, arrisco que a solidão no suicídio deve ser absolutamente esmagadora.

Não é a mesma coisa morrer de morte morrida e de morte auto-infligida.

Conheço o desespero. Fomos apresentados numa noite escura, quando dobrava a esquina do desamor, rumo à solidão. Conheço a forma como se insidia, como se faz presença pequena a princípio, avassaladora totalidade, se lhe sermos confiança. Sei como sorri, como nos puxa para o lado para nos sussurrar ao ouvido, como nos apresenta o charco como única possibilidade de futuro.

E conheço o amor. O arqui-inimigo do desespero. A quem dei ouvidos. E o derrotou.

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