Nunca consegui entender o racismo.
A diferença é sempre complicada. Para mim, que gaguejo, sei um bocadinho o que isso é, Numa escala muito pequena, claro, porque normalmente a gaguez até desperta alguma simpatia e cativa quem me escuta. Mas ainda assim é diferença, causa estranheza e reações que não ocorreriam se não existisse. E eu vejo-as. Todas. Mas não há grande estigma nisso. O que não acontece com o racismo.
Trabalho com miúdos brancos, negros, ciganos, ricos, pobres, com inteligências e aptidões diferentes, com religiões diferentes, sem religiões, com boas referências de vida, com péssimas referências de vida. Sou um privilegiado, portanto. A todos eles conheço pelo nome e conhecem-me. Conheço um pouco as suas famílias e os seus percursos. Há algo que os une: são miúdos. Têm os mesmos anseios, as mesmas brincadeiras. E são muito diferentes. Nos seu instintos, nos seus sonhos, na sensação de proteção ou de luta, nos seus anseios, naquilo que eu gosto de chamar o horizonte de futuro. Todos sabem o que á partida os espera. A uns basta que deixem correr o marfim para que a vida lhes sorria, assim, sem esforço; outros sabem que, se adormecerem no pedaço, acordam numa cadeia qualquer ou com filhos aos 15 anos.
O racismo é o tratamento primário da diferença. É preguiçoso, porque se fica pela aparência. É mau porque não liga nenhuma a quem existe por detrás da aparência. É terrível porque não deixa que a pessoa exista, por si só, apenas a sua aparência. E isto é válido para negros, ciganos, indianos, betos, gunas, gays, mulheres, homens, padres, comunistas, portistas, benfiquistas... o que quer que seja que seja algo diferente de nós próprios.

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