Se perder não dói, não se perde, deixa-se ir. Não há perda sem dor. Qualquer que ela seja. qualquer que seja o seu tamanho, o lugar que ocupa, a importância que lhe damos. Pode doer um pouco menos, por relativamente pouco tempo, ou pode arrastar-se dias, semanas, meses, anos a fio, sem que aquela sensação de aperto nos permita voltar a encher os pulmões de vida.
Fazem-me alguma confusão aqueles que permanentemente encolhem ombros. Que não se ligam. Que não batalham. Que apenas habitam a superfície e não conhecem outro horizonte senão aquele se lhes apresenta ao olhar. Até têm metas e objetivos e elaboram rotas para os alcançar, mas ficam-se por aí, sem ousar, sem arriscar, sem descobrir o âmago, a intensidade, a alegria esfuziante do ganho, a dor desesperante da perda. Porque viver intensamente é também sentir intensamente. É arriscar muito, é ganhar muito, é perder muito, é assenhorar-se do futuro, ainda que ilusoriamente e por breves momentos, porque logo a seguir é-se dono de coisa nenhuma. É amar, muito, e loucamente.
"São-lhe perdoados os muitos pecados porque muito amou. Àquele a quem pouco ama, pouco se perdoa." Amor e perdão estão intimamente ligados. Amor e risco estão intimamente ligados. Risco do excesso, risco do descontrolo, risco do incorreto, risco do inexplicável, risco da ausência de resposta cabal, racional, certinha, quando assumimos a coragem de a procurar em frente ao espelho. Por isso, ao amor do Pai está sempre associada a Sua misericórdia, Ao seu imenso Amor, o Pai associou a Sua maior misericórdia. Porque sabe que aquele que arrisca amar tem muito a ser perdoado. E precisa, sempre, de voltar aos braços abertos que vêm ao seu encontro.
Eu sei.

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