Hoje, como sempre acontece à terça, tivemos reunião no RAIZ. Às tantas, a conversa vai ao encontro das nossas preocupações constantes com o futuro dos nossos miúdos. Enquanto permanecem por cá, enquanto os temos debaixo de olho, as coisas ainda vão correndo. O pior é depois. Falamos de uma série deles que, ao longo dos últimos meses, ou foram ter à prisão ou estão em casa com prisão domiciliária ou então foram libertados em julgamento. São marionetas. Dos pais, dos irmãos mais velhos, dos traficantes, das força policiais. São carne para canhão. Aqui no bairro, se eles não funcionarem em condições, rapidamente são substituídos por outros com maior vontade, maior estupidez, menor consciência e escrúpulos.
Oiço e não acredito. Conheço bastantes deles e o que conheço, o que recordo, são momentos que nada têm a ver com o seu passado próximo e com o seu presente. Miúdos traquinas, com pouca vontade de estudar, vivaços, muito alegres, muito dóceis. Miúdos que noutras circunstâncias poderiam ter dado gene a sério. Miúdos que fizeram as escolhas erradas e por isso são responsáveis pela sua situação. Não exclusivamente, é certo, porque foram enredados numa rede feita de promessas fáceis, trapaças e enganos. Mas são responsáveis pelas suas escolhas. Condicionados, sim, mas tiveram hipóteses de enveredar por outro futuro. E não quiseram, não soubera escolher bem.
Dá vontade de os meter numa redoma, de os afastar do Bairro e das suas famílias que os exploram, de os colocar num outro lugar, mais são, mais livre, onde possam verdadeiramente munir-se de ferramentas para que possam escolher quando chegar a sua altura de escolher. Não podemos. É a sua vida, não a nossa. Podemos acompanhar, aconselhar, proteger, estimular, apresentar exemplos e alternativas, mas não nos podemos substituir a eles próprios.
É este o nosso quotidiano, por estes lados. semear. E assistir, com dor, à colheita alheia.

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