Estou a (tentar) ler a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, que o Papa Francisco escreveu recentemente e ontem foi publicada. Espanto-me sempre com a simplicidade daquela cabeça. Quem, como eu, tende para as coisas profundas e densas - sim, eu escolho muitas vezes um livro pelo número de páginas - tipo Bento XVI, facilmente encontra nos textos do Papa Francisco alguma tendência para a superficialidade, para a excessiva simplificação do que se espera ser complicado, a exigir dicionário teológico, quanto mais não seja para nos alimentar o ego da sabedoria!
Uma das minhas provocações mais comuns e favoritas é "expliquem-me como se eu tivesse cinco anos". Todos os meus filhos já tiveram cinco anos - bem, quase todos, porque a idade mínima da Rita foi nove - e eu recordo-me bem como era difícil responder à sua enorme e constante sede de respostas. Tentar explicar algo a um miúdo de forma a que ele entenda - e se cale - exige um esforço de síntese que nos conduz ao essencial de cada questão, ao seu sumo, àquilo que realmente importa.
Era justamente aí que Jesus se mexia, a nível teológico.
Para além do maior sinal da Sua vida - a ligação umbilical aos que se crêem ser menos, restituindo-lhes a dignidade que procedia do Amor do Pai - marca a simplicidade da Sua mensagem. Sem muitas palavras, sem muitas divagações, focando no essencial, contando pequenas histórias ligadas ao quotidiano das pessoas, se necessário for. Mesmo na sinagoga, lia as leituras, proferia meia dúzia de palavras, e deixava que cada um dos que O escutavam seguisse o seu caminho interior. Acredito que a dúvida que Jesus acabara de instalar em cada uma daquelas cabeças fazia caminho. Nem sempre o caminho certo, inevitavelmente, mas cada um dos que estavam presentas na Sinagoga tinha a oportunidade de escolher, de decidir, de se fazer parte do caminho que Jesus propunha. Era chamado à responsabilidade de escolher. Que é o que nos acontece quando não nos é dada a papinha toda, quando nos dão a fome em vez de nos saciarem.
E dou por mim a gostar desta simplicidade de Francisco. Que torna cada documento seu legível e entedível e até fazível por qualquer pessoa, qualquer cristão, qualquer homem ou mulher que tenha vontade de aprofundar a fé. À semelhança do evangelho. Tenho é que me habituar!

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