É já proverbial, para os meus, a minha recusa em ser sepultado num cemitério. Os meus sabem-no sem dúvidas há muitos anos. Sabem que quero ser cremado, onde gostaria que fossem espalhadas as minhas cinzas - nos meus lugares de pertença física e espiritual: Porto e Taizé - e estou certo que este é um daqueles casos em que a minha vontade será satisfeita.
E no entanto...
Tenho vindo a redescobrir os cemitérios. Pode parecer macabro, mas não é. O meu futuro, em algum momento, implicará a minha morte, por isso é natural que eu pense nisso. Ultimamente, com alguma tranquilidade, até. Depois do choque das recentes mortes que tanto me mexeram cá por dentro, é uma espécie de assumpção, de aceitamento por absorção. Uma espécie de fase nova, em que vou percebendo (finalmente!) que o corpo tem limites e que qualquer dia será o dia. Ainda na semana passada, numa das já habituais conversas à volta da fé com os meus filhos, um deles perguntou-me se eu creditava mesmo que iria estar olhos nos olhos com Deus. E eu respondi-lhe que sim, que acredito mesmo que irei estar olhos nos olhos com o meu Deus e que Ele me receberá com um enorme sorriso. Porque não pensar nisto, então?
Ultimamente tenho percebido os cemitérios com um outro olhar. Como um lugar de encontros. Nem sequer e reencontros, mas de encontros. De saudades. De novas formas de saudade. De memórias. De alegrias e choros, com os condizentes sorrisos e lágrimas. É um reviver, de uma outra forma, mas igualmente viva, de uma nova realidade.
E isso tem-me questionado. 

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