Assim que se sentou ao meu lado percebi que hoje era dia de conversar. Aninhou-se em mim, como fazia quando pequenina, porque se para os pais os filhos são sempre filhos, para os filhos os pais são sempre pais. E essa verdade suplanta qualquer medida do tempo. Sabia do que iríamos conversar, que era chegado o momento de colocarmos as palavras em consonância com as ações, que isto de brincar às escondidinhas é sempre saboroso mas tem o seu tempo. Escutei, com enorme prazer, como escuto sempre aqueles que amo. Disse apenas que para mim o que importa nos meus filhos é se as suas escolhas são acrescento ou roubo. Se quem eles conhecem, a quem se ligam, a quem se entregam, lhes tiram ou acrescentam. E que a via íntima e profundamente feliz. E que, estando ela feliz com as suas escolhas eu estou feliz com as suas escolhas.

Quando digo que aprendo muito com os meus filhos não é porque fica bem. Aprendo muito com os meus filhos. Quando acabou o recolhimento e ela foi à vida dela fiquei a pensar no que acabara de lhe dizer. É muito comum em mim esta descoberta à medida que as coisas vão saindo de mim, numa espécie de navegação à vista que no meu caso normalmente produz melhores resultados que a reflexão. Porventura, em mim, as coisas sentidas serão mais fiáveis que as coisas pensadas. Menos complicadas são, pelo menos.

Perguntei-me, ontem, como me pergunto muitas vezes, se serei acrescento ou roubo. Para quem serei eu acrescento e para quem serei eu roubo. Durante o dia tivera ambas as manifestações e eu pesava-as devidamente, recordando a conversa com a minha filha.

Eu acrescento?
Eu roubo?

Gostaria de ter ficado mais satisfeito com a minha resposta.

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