Sempre que leio ou oiço falar no diabo sinto as unhas dos pés a torcerem-se todas. De vez em quando há na Igreja algumas tendências que me deixam, mais que estupefacto, profundamente triste. Devo confessar que, no Papa Francisco, esta recorrência ao diabo me confunde. Mais: entre outras coisas - como o simplismo do seu papado (que é coisa bem diferente de simplicidade) - essa referência quase permanente provoca quase que uma reserva interior, como se alguma coisa não batesse certo. Então a falácia "a principal vitória do diabo é não acreditarmos na sua existência" põe-me verdadeiramente fora de mim. É fanfarronice!
Eu acredito no Bem. E no Mal. Não como entidades invisíveis que pairam acima das nossas cabeças mas como possibilidades, como potencialidades, como resultados de escolhas nossas, conscientes ou não. Por isso não gosto quando, por exemplo, se diz que Hitler estava possuído pelo demónio. Hitler, como qualquer um de nós - numa outra escala - tomou decisões, fez escolhas, influenciou milhões de pessoas para destruir milhões de pessoas, em nome da ganância, da sede de poder, de superação de dificuldades interiores e exteriores, de vinganças, de orgulho. Tal como cada um de nós! Era mau, sim, mas porque escolheu o mal, não porque fosse habitado pelo demónio. Num outro pólo, Gandhi ou Luhter King ou tantos outros não estava particularmente habitados pelo Espírito. Tomaram decisões, fizeram escolhas, provavelmente tiveram noites sem dormir e problemas de consciência e incertezas, assim como Hitler ou Estaline ou, repito, qualquer um de nós. Em todos eles, em todos nós, habita a potencialidade do Bem e do Mal. Cabe-nos escolher.
O problema do demónio é que retira da nossa humanidade da equação. A humanidade enquanto capacidade de escolha, enquanto liberdade, enquanto voz ativa na definição do que cada um quer para a sua vida e para a vida dos outros. A recorrência ao diabo desresponsabiliza, potencia o bode expiatório, permite remeter, mais ou menos conscientemente, a culpa para debaixo do tapete.
E eu prefiro uma culpa reconhecida a uma culpa não assumida. Por mais que doa. Ajuda-me a crescer. Sempre!

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