Recordo com frequência a lamentação em prantos de um amigo que se divorciara havia pouco tempo: "o que mais me dói é não poder estar todos os dias junto dos meus filhos."

Quando se ama nada dói mais que não estar. Porque não se pode, porque não se deve, porque as situações que criamos não nos permitem fazê-lo, porque a vida faz o seu caminho de acordo com as nossas escolhas. Ou não. Talvez seja também por isso que continue a pairar cá por dentro o o terem-me dito que não sei amar. Porque há uma responsabilidade que outras responsabilidades me impedem de assumir, E não existe amor sem responsabilidade. Não existe fantasia ou desejo ou sonho ou wishful thinking que resista à realidade: sou apenas um. Se não por dentro, pelo menos por fora sou apenas um. E, fisicamente, não consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Quando se ama, escolher não devia fazer parte do campeonato. Amava-se e pronto. Estava-se quando se estava e pronto. Sentia-se e pronto. Mas a escolha é, justamente, uma consequência de amar. Porventura não definitiva, porventura não exclusiva, mas sempre com o paradoxo de, inexoravelmente, conciliar a infinitude do ser com a perene limitação física do estar. Não devia ser assim. Ás vezes é tão difícil ser assim!

Frequentemente sinto enormes dificuldades em corresponder à necessidade de estar. O que significa, em última análise, que frequentemente sinto enormes dificuldades em escolher onde tenho que estar. Esta minha omnipresente tentação de ter sol na eira e chuva no nabal, apesar de por vezes muito saborosa, revela-se inevitavelmente desastrosa à medida que o tempo vai sendo tempo. Acabo por ser pela metade, sempre dividido, sempre a dividir, sempre a repartir aquilo que apenas faz sentido por inteiro.

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