Quando estou bem, acredito que as pessoas que nos habitam são definidoras da forma como vivo a minha vida. Que tipo de memórias tenho? Com que pessoas? Em que momentos? Que tipo de sentimentos essas memórias reacendem em mim? Qual a saudade que me impregnam? Quando estou mal não consigo sequer aperceber-me desta presença que é quase tão real como a realidade. No entanto, é a estas presenças que instintivamente recorro para sair dos buracos escuros em que por vezes me meto.
Há uma marca ainda mais duradoira, única, pessoal e intransmissível que uma impressão digital que os que me habitam deixam em mim. Estranhamente, algumas dessas marcas nem foram por mim devidamente reconhecidas na altura em que aconteceram. Creio que me terão parecido momentos insignificantes, despercebidos, submersos entre outros aos quais, na altura, me pareceram bem mais importantes. No entanto, em determinada altura essas aparentes insignificâncias ganham um relevo quase desmesurado e tornam-se em tábuas de salvação, em caminhos de luz. Não raras vezes volto a escutar conversas e lugares e olhares e partilhas que me dão um sentido que eu buscava há tanto tempo e demorava a encontrar.
Confesso que adoro esta presença cá por dentro. Adoro sentir-me habitado por memórias e encantamentos ligados a pessoas concretas em momentos concretos da minha vida. A minha questão é quando viro esta coisa ao contrário: quem habitarei eu? E, sobretudo, como habitarei eu?

Comentários

Mensagens populares deste blogue