Quando era novo tive, por várias vezes, dores de crescimento. Em boa verdade não fazia ideia do que seriam dores de crescimento, mas sabia que era um bom motivo para a minha avó me esfregar arruda nas pernas (também não faço ideia do que seja) e que isso produzia um efeito de alívio imediato. A esta distância creio que haverá uma boa probabilidade de ter sido apenas mimo, mas uma boa dose de mimo ocasional não faz mal a ninguém.
Nessa e noutras alturas pensava que as dores de crescimento acabariam por acabar. Nessa como em muitas outras alturas estava profundamente enganado. Hoje de manhã, nesse consultório de estados de alma quotidiano que é o meu duche, pensava nas justificações que poderia dar a alguém que me confrontasse com os meus últimos tempos. Essas imaginárias ou antecipadas tentativas de justificação ocupam muito tempo do meu tempo. Procuro sempre um discurso que me permita ler a minha realidade atribuindo-lhe um sentido que à partida não encontro. Isto nos momentos em que me porto bem, por que nos outros faço o contrário: invento uma realidade que se coadune com o meu discurso previamente elaborado. Uma espécie de tentativa ridícula e estúpida - dois adjetivos que tenho como fiéis companheiros de jornada - de salvar a face.
Algures aí no meio, entre discursos próprios e externos e realidades interiores e exteriores, creio que estarei eu. O meu problema é que não consegui ainda estabilizar-me num qualquer desses lados e passo a vida a oscilar, aos saltinhos, de inconstância em inconstância entre o que sinto e sei que sou o o que sinto e sei que devo ser... e desejo ser. A minha esperança mais profunda é que, a determinada altura, nem que seja breves minutos antes de morrer, eu consiga perceber onde pertenço. Ainda que me adiante de pouco, porque se me acontecer apenas nessa altura, estarei a breves minutos de pertencer a uma outra realidade. Enfim... talvez aí possa, enfim, ter descanso!

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