20131217
"Só o silêncio do rebentamento das ondas quebra o silêncio da espera." Podia ser uma daquelas frases bonitas que por esta alturas aparecem em inúmeros power points que todos os dias recebo alusivos ao Advento. Podia ser uma das belíssimas orações da manhã da Renascença com que tento começar os meus dias. Infelizmente, não é nada disso. É o título da notícia dos familiares que desesperam pelo aparecimento dos seus na praia do Meco.
Não consigo imaginar um desespero maior que aquele que aguarda que o corpo de um filho dê à costa. Não consigo imaginar como é possível viver depois disso, como as noites são imensas noites, como os dias deixam de ser dias. Não consigo imaginar a dor superior a qualquer outra dor que é perder um filho, qualquer que seja a circunstância em que isso acontece.
Silêncio e o barulho do mar. Duas situações que normalmente procuro quando preciso de me reencontrar, de me recolocar perante a vida. Duas situações que são o meu caminho seguro para encontrar a paz e a felicidade. Duas situações que, afinal, não passam de circunstâncias, de invólucros de uma interioridade que já lá está, que espera apenas que a desembrulhemos e a saboreemos como se fossemos íntimos do Mestre Tempo. Duas situações que assumem agora uma carga impossível de suportar para aqueles que esperam pelos seus no silêncio do mar.
Como lhes falará Deus hoje?
Como lhes será possível esperar outro que não seja o seu menino ou a sua menina que desapareceu no mar?
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Bambora
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