Hoje tive a prova que vivemos tempos perigosos. Pela primeira vez fui bombardeado com uma teoria da conspiração, uma visão apocalíptica do futuro, que mistura terceira guerra mundial com a vinda de Jesus sobre as nuvens para reinar em todo o seu esplendor. Não estou a brincar. Foi assim mesmo. E o autor dessa visão nem sequer é um daqueles sem abrigo meios marados que vemos em filmes americanos: pelo contrário, é um senhor normal, de meia idade,  dotado de uma base cultural sólida, pelo que pude perceber com fé,  mas que, aparentemente, se sente confuso com toda esta situação.

Eu também não ando propriamente descansado. São muitos os "ismos" que vão renascendo das cinzas ressuscitando velhos fantasmas e inquietando espíritos. Todas estas brincadeiras de comparar ditaduras e fome a sério - como a que os nossos pais viveram - com a situação actual em que ninguém quer abdicar de privilégios pode, um dia destes, dar para o torto. E o mal é que ninguém liga aos pequenos sinais de verdadeiro desespero daqueles que nunca tiveram os privilégios, e que são os sofredores do silêncio, quanto mais não seja porque ninguém os ouve. Não me preocupam nada aqueles que vão para as manifestações com a mesma leveza com que vão para os bares ou cafés - dão dois berros, eventualmente atiram algumas garrafas e acham que têm uma grande história para contar aos amigos - mas aqueles cujo desespero os leva a cometer verdadeiras loucuras. E conheço pessoalmente muitos a viver estes dramas.

Eu acredito sempre no futuro. Mesmo quando nada o faz prever, mesmo quando tudo aparenta ir em sentido contrário, acredito muito nos pequenos gestos e atitudes que vão dando sentido à nossa vida. Mas por outro lado, nunca tive grandes ilusões. São tempos perigosos, estes. E ou mudamos o rumo dos acontecimentos, ou a coisa pode ficar preta.

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