Há momentos da vida que se assemelham estrondosamente com um filme de Woody Allen: tudo se passa num só dia, num só espaço, que se vai transformando arrastando nessa transformação os que nele habitam. Vamos sendo os mesmos intercalando-nos a nós próprios com os outros nós que alternadamente nos habitam e desabitam e que tentam ganhar o seu lugar numa intensa batalha corpo a corpo, olhos nos olhos. Há, nestes dias, uma enorme amplitude térmica emocional: conhecemos a alegria do reencontro e a tristeza da despedida, a constante presença e a saudade da separação, o reencontro do terraço e a despedida, ainda que efémera, de uma lua que todas as noites volta para nos permitir que dela nos apropriemos. Tudo é contraditório, tudo é contido, tudo é dito e vivido entre dentes, como se temêssemos que as nossas próprias sombras se afastassem definitivamente de nós próprios e nos deixassem ali, sós, desamparados, numa procura nunca acabada. São raros, estes momentos. Ainda bem! Infelizmente! Eu sei lá qual das duas é a mais indicada. Por um lado, ainda bem, porque, coisa rara ente nós, por vezes até as palavras incomodam de tão desadequadas. Por outro lado, infelizmente, porque são os momentos com esta intensidade que ficam guardados, quantas vezes contra a nossa própria vontade, no mais fundo de nós próprios.

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