Hoje temos consulta. De novo. Juntos. Mais um dia de conversas, algumas sobre coisas mais ou menos importantes, a maioria sobre coisa nenhuma. O meu pai é mestre na conversa sobre coisa nenhuma. É normal. Sente o silêncio como incómodo. Vai daí, enche-o como se enchia uma almofada com sumaúma e ficava uma coisa meio disforme, cheia de grumos, onde a custo se repousava a cabeça. São mais ou menos assim, as nossas conversas. Nunca senti que nelas - ou nele - tivesse o suporte tantas vezes por mim precisado para pousar a cabeça. Mas tem sido bom. Muito bom. Mais uma vez, sou para o meu pai o que sempre fui: cuidador. O seu cuidador. Gosto de acreditar que, em determinada altura, ele se tenha preocupado em ser o meu. Não dei por isso. Sempre dei conta do contrário, desta inversão de papéis. Não apenas com ele, mas também com a minha mãe, os meus irmãos... Houve uma altura em que lidei mal com isso. Agora, à medida que vou ficando velho, vou lidando melhor. E hoje, é mais um passo nessa vontade de melhorar. Vamos juntos à consulta. Vamos conversar. E, com sorte, alguma coisa há de ser dita de significativa. Se não o for, não tem importância. Estaremos juntos. A conversar. Juntos. A construir memórias.
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