Volta e meia sinto-me sozinho nesta Igreja que amo e à qual dedico grande parte da minha vida. Não é coisa que me custe assim por aí além, nem é coisa de agora. É de sempre. Provavelmente porque sou um tardio na fé, porque nasci no seio de uma família que ainda não era católica, porque apenas com cerca de 15 anos, e por vias travessas, descobri a imensidão de Jesus, provavelmente por isso tudo e mais alguma coisa, há aspetos na Igreja que eu não entendo e por isso não posso defender. Um deles, que vem recorrentemente à liça, é a questão do purgatório, que está ligado às almas que se pretensamente se salvam graças à nossa oração, que está ligada às intenções das missas e isso tudo.
Eu acredito num Deus infinitamente bom, num Deus que espera até à ultima para acolher quem O busca, um Deus que não depende em nada dos homens a não ser para Lhe abrirmos a porta. Acredito, por isso, em termos meramente hipotéticos, na existência do Inferno, que é "apenas" a negação de Deus. Outra das coisas em que acredito, e que está intimamente ligada a tudo isto, é que estaremos, todos, face a face com Deus, olhos nos olhos, e por Ele seremos acolhidos, da mesma forma, com o mesmo amor, com a mesma disponibilidade e alegria por parte do Pai, independentemente do que tivermos feito nesta vida. Acredito que nada disso terá importância perante um Pai que corre ao nosso encontro para nos abraçar sem sequer nos perguntar o que fizemos e porque o fizemos. Por tudo isto, acredito que, mesmo aqueles que O negaram irão finalmente (re)conhecê-lo e, face ao seu olhar de Amor, a Ele se irão entregar. Todos, repito. Todos de igual maneira, com o mesmo amor, com a mesma alegria. 
Não percebo, por isso, onde encaixa aqui o purgatório. Não percebo as orações pela salvação das almas, como se o amor de Deus estivesse dependente da quantidade de pessoas que por elas reza (não serão estes, aqueles de quem ninguém se lembra e por quem ninguém reza efetivamente, os últimos? E não é para os últimos o olhar do Pai?). Não percebo porque se reza pelas pessoas na missa e muito menos porque se paga para que se reze por elas (quer dizer, até percebo, mas não são bons motivos). 
Eu rezo com os meus mortos, não pelos meus mortos. Rezo com eles porque sei que eles já estão junto do Pai, e por isso têm já uma clarividência que a mim me escapa, que têm uma sabedoria de que necessito, que são já Amor no Amor do Pai, e que por isso me perdoam de todas as vezes que meto água - sem sequer se cansarem de me perdoar essa imensidão de vezes. Rezo com eles porque rezo com os santos, para que me ajudem a ver, para que me ajudem a serenar, para que me ajudem a tentar caminhar o melhor possível. Mas não rezo por eles. Quem sou eu para o fazer?

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