Voltamos a conversar acerca deste buraco, hoje. Mais uma vez, fica a sensação que não me fiz entender. Não há maneira de o fazer. Como posso falar destes buracos a quem nunca os sentiu, nunca lhe pôs a vista em cima, nunca fez parte da sua realidade? Como falar de incompletude a quem se sente completo? Não é possível. Mas também não é possível, ou desejável sequer, tapar esse buraco. Mais vale assumir a sua presença, perceber que está lá, permanentemente lá, e viver com isso, tendo o cuidado de o contornar, tendo a sensatez de lhe encontrar a corda ou as escadas ou pelo menos a mão disponível quando lá se cai. Assim será com os buracos da nossa vida: de nada adianta varrê-los para debaixo do tapete, torná-los omnipresentes de tanto se forçar o seu desaparecimento. Porque o buraco é também parte do que somos. E uma importante parte.

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