Não é todos os dias que testemunho o nascimento de Deus em alguém.

Demasiadas vezes tenho Deus como garantidamente certo. Mesmo eu, que vivo imerso por entre pessoas para quem a referência mais imediata de Jesus é a do treinador de futebol, esqueço-me frequentemente que Deus é um habitante desconhecido em tantas pessoas das comunidades que habito. Este fim de semana foi de Rumos: uma caminhada de Ansião a Fátima por entre aldeias e caminhos de santiago entrecortadas por dinâmicas de reflexão e oração. Connosco, pela primeira vez, foram alguns miúdos do RAIZ para quem tudo aquilo era novo: o caminho, as aldeias, as paisagens, as reflexões, mas sobretudo as orações. Durante a primeira - feita logo no arranque - só se conseguiam rir de espanto e nervosismo: tudo era estranheza e sentiam-se peixes fora de água. Pouco tempo depois já no caminho, conversamos: "stor, eu não sei rezar, nunca rezei". "Não te preocupes, não tens que fazer nada, nem responder: limita-te a ficar em silêncio e a escutar. Se ajudar, fecha os olhos." Em cada reflexão, em cada oração, a cada passo, fui tendo-os debaixo de olho. No final do dia já não se riam, no dia seguinte já cantavam. Quando chegamos a Fátima entrei no recinto com dois deles. Testemunhar o seu espanto foi maravilhoso: de olhos esbugalhados, boca aberta, saiu-lhes um "isto é tão grande! Tem tanta gente!". Fui explicando o que era aquele lugar, porque estavam tantas pessoas vindas de tão longe, porque estávamos nós próprios ali. Sem grandes teorias, disponibilizando apenas as pistas fundamentais para se sentirem acolhidos na casa da Mãe. 

E louvei a Deus!

Eu já fiz missão em Moçambique. Sei por isso como é importante que alguns de nós tenham a coragem de ir para longe. Mas, mesmo naquelas (para mim) recônditas terras de Quelimane, nunca tinha sido parteiro de Deus. Demasiadas vezes tenho Deus como garantidamente certo. Demasiadas vezes esqueço que há pessoas que, olhando para a sua vida, a veem como alguns viram o túmulo: vazio de Deus. Iludidos pela aparência das circunstâncias, veem apenas que Ele não está lá. E não sabem que é em si que Deus habita. Porque nunca ninguém lhes disse isso. Porque nunca ninguém lhes forneceu a chave que permite sentir e viver a partir dessa novidade. Porque eu, conhecendo-os e conhecendo-O, não os apresentei mutuamente. E essa é, também, minha responsabilidade.

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