A minha memória tem coisas giras. Hoje, na minha (abençoada) caminhada matinal deparei-me com o diálogo destes dois bancos de jardim. Imediatamente, a minha memória recuou vários anos, a Quelimane, onde aprendi uma das grandes lições da minha vida: a importância do tempo para estar. Lá, sempre que eu visitava a casa de alguém, a primeira coisa que faziam era colocar duas cadeiras à sombra de uma árvore. Mesmo que eu dissesse que não valia a pena o trabalho, que seriam apenas uns breves momentos de conversa, insistiam, e eu lá me sentava adaptando, com dificuldade, o meu ritmo europeu ao africano. Mais tarde, o Padre Jorge explicou-me: era uma maneira de me dizerem que aquele tempo me era dedicado, sem pressas ou desvios de atenção, que eu era suficientemente importante para justificar esse trabalho e esse tempo.
Claro está que vim de Quelimane com a pretensão de fazer o mesmo. Em vão. Mas ficou a lição. E é mais uma daquelas coisas que me fazem sentir alguma culpa e eu remeti para as calendas da reforma. 
É um bocadinho estúpida esta tendência para a culpa pelo uso que faço do tempo. Sobretudo porque sou um privilegiado, porque tenho a possibilidade de viver a vida que escolhi e exercer uma profissão que, de tanto sonhada, por vezes ainda me parece inverosímil. Normalmente aproveito bem o tempo, raramente o sinto como desperdiçado, e isso tem-me permitido ser habitado por memórias e lugares e pessoas que me enriquecem. Mas a verdade é que, demasiadas vezes, privilegia em demasia o tempo ao fazer e concedo pouco tempo ao estar. Para sentar e escutar e falar ou simplesmente estar, e contemplar, e saborear tudo o que me é proporcionado viver. Porque, sempre que o consigo, esse é um tempo de encontro. E o tempo de encontro é tão bom quanto fundamental para que eu consiga ser feliz.

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