trincheiras


No Raiz saber calar é uma arte. Muitas vezes os miúdos apenas precisam de extravasar e quando nos chegam às mãos vêm já cheios de cargas emocionais complicadas e pavio curto. Provavelmente já apanharam na cabeça na escola e em casa e no supermercado e em quase toda a vida e por isso disparatam à mínima contrariedade, principalmente falando alto, na tentativa de passar o desconforto para o lado do opositor do momento: eu. Nos meus dias bons, calo. Não arredo pé de junto deles, olhando-os os olhos e escutando-os atentamente durante toda a descarga, sem nada dizer, sem nada argumentar. Isso desconcerta-os. Muito. Baixam o tom de voz e, aí sim, podemos começar a conversar acerca dos seus desconcertos e da forma de os concertar.

Esta semana tem-me confirmado isso mesmo. Na minha profissão, na minha catequese, na minha vida pessoal e familiar, redescubro que não consigo dar se não querem receber. Que não vale a pena estar a tentar impor ideias, valores ou sentimentos se os outros estão mais focados nos seus próprios argumentos que em escutar os meus, ou a vida, ou a fé. Quando isto acontece é-me extraordinariamente fácil e intuitivo entrar neste tipo de discussão, entricheirada e sem resolução. Na qual qualquer vitória é aparente e ilusória. Nos meus dias bons recuso-me a entrar na trincheira.

Então calo. À espera que a respiração serene, que o cérebro volte a ser oxigenado e que a vida aconteça. Como sempre acontece. Então aí sim, podemos começar a conversar. Verdadeiramente.

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