(Des)Confiar habita o muro. Sempre. Nunca se afasta dele, nunca deixa a sua sombra, nunca permite que abandone o horizonte do olhar, nunca se deixa o seu alcance, nunca se deixa de colocar migalhas no caminho, só para o caso de se ter que voltar. Rapidamente. Em esforço.

A (des)confiança não nasce connosco. Vem com a consciência de nós próprios, da possibilidade da dor, da necessidade de avançar apesar da possibilidade da dor. Vem com a consciência dos outros, daqueles que contamos que nos amparem a queda ou nos reergam, sacudam o pó que engolimos, e nos impelem a avançar. A (des)confiança é irmã gémea do medo, omnipresenças de um equilíbrio que se queria permanente mas afinal periclita, abanando-nos por todos os lados.

Li um destes dias que as pessoas hoje, apesar de se sentirem ligadas ao Transcendente, se desligam dos rituais. Sorri. Eu sou um homem de rituais. Gosto de fazer as mesmas coisas nas mesmas alturas do dia e, embora goste de surpresas, não é nelas que encontro a confiança. Gosto de rezar pela manhã, de caminhar pela manhã, de dar os bons dias aos que amo logo pela manhã, seja em viva voz ou digitalmente. É uma maneira de me sintonizar comigo, com os meus, com este Deus que me acompanha. É uma maneira de me sintonizar com a vida, com aquilo que é verdadeiramente importante na vida. É a minha maneira de lidar com a (des)confiança e, assim, poder arriscar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue