Tenho o meu sogro como um dos sábios com quem me cruzei na vida. O facto de ele, pelo menos aparentemente, nunca ter morrido de amores por mim - pelo menos nunca o manifestou e nunca o senti - apenas confirma essa sabedoria: via mais longe. Uma das suas frases que retive para a vida foi que as pessoas são caminho de salvação. Quando ele o disse referia-se aos doentes e velhinhos, particularmente aos acamados e difíceis de tratar, que são caminho de salvação para todos os que os visitam ou deles cuidam.
Hoje, enquanto caminhava e me preparava para enfrentar o meu Deus daqui a pouco, pensava na grande questão que tanto me abalou há uns anos: como me apresentarei ao meu Deus? Que Zé é este? E pensava naqueles que, particularmente nestes últimos anos, fizeram e fazem parte desta caminhada. E pensava naquela frase do meu sogro.
O discernimento dos outros, o "já chega", o forçar-me, ainda que por falta de alternativas, a mudar de direção, o permanecer junto de mim, o acolher partes de mim rejeitando outras forçando à transformação, os pequenos e grandes toques, as pequenas e grandes conversas, as pequenas e grandes decisões, as pequenas e grandes e incompreensíveis loucuras, tudo isso são caminhos que, por percursos mais ou menos enviesados, me permitem enfrentar o meu Deus confiando-me mais ao Seu Amor. Se hoje me sinto amado, se hoje me sinto em construção, se hoje me encontro em caminho, se hoje consigo olhar para o meu destino carregando inteiro o que eu sou inteiro devo também a todos os que me amaram o suficiente para me salvarem de mim próprio. Não é questão de gostar mais ou menos de mim, é questão de confiar que isso é irrelevante para Aquele que me acolhe. É aceitar-me. Assim. Como sou. Exatamente como sou: alguém que tem ainda muito para caminhar.

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