Páscoa. Férias da Páscoa. Casa, celebrações, compras, limpezas, filhos. Ter de novo a casa cheia com a inevitável e saborosa confusão, com as inevitáveis e saborosas discussões, com a inevitável ausência de silêncio e sossego. Esse, juntamente com a serenidade, estão reservados para as caminhadas a dois e encontramos todas as noites na nossa Igreja, em comunidade, nas belíssimas celebrações que nos promovem o reencontro.

A Páscoa é sempre tempo de regressos.

Há já coisas que não faço a mínima ideia de como é viver sem elas. Não imagino como será viver sozinho, não imagino como será decidir sozinho o que quer que seja, não imagino como será projetar um dia tendo-me apenas como ponto de partida e chegada. Da mesma forma, não imagino como será viver sem Deus. Sem celebrar Deus. Não imagino como será Domingo sem Eucaristia, Natal sem Nascimento, Páscoa sem Ressurreição. Não são meros rituais, meros acontecimentos nos quais participamos externamente. São, todos eles, momentos de encontro, distintivos, que provocam um antes e um depois, alturas de confronto entre o que sou, o que quero ser e o que sou chamado a ser e, por isso, tempo de reconciliação, se não comigo próprio (é-me sempre mais difícil reconciliar-me comigo próprio), pelo menos com os meus outros. Que são sempre o melhor (único?) caminho para me reconciliar comigo.

À medida que os filhos vão sendo adultos vamos tendo formas distintas de celebrar estes momentos, e vai sendo mais difícil estarmos todos juntos nas mesmas celebrações, como acontecia até aqui. A dificuldade começa até na minha aceitação interior - que a exterior está lá - das suas escolhas de caminho. Para eles não é tão importante a presença nas celebrações - das quais ainda não sentem necessidade - e passam por este tempo mais no encontro pessoal que no encontro manifesto com Deus. Não lhes doem ainda os ossos, para utilizar uma sábia expressão que ouvi em Taizé. Os nossos ritmos vão sendo cada vez mais diferentes, nesta como noutras vertentes da nossa vida, o que implica um ajustamento até do que é ser família. Se até aqui era estarmos juntos nas mesmas coisas, agora é outra coisa, é amarmo-nos e preocuparmo-nos à distância e, por vezes, em silêncio. É a alegria de estarmos juntos à volta da mesa, de nos deitarmos com (quase) todos ao alcance do olhar, é o saborear o momento, sabendo que não durará muito porque daqui a pouco retorna tudo à sua rotina, longe de nós.

E ficamos nós. Os dois. Saborosamente os dois. Nas rotinas que vão sendo cada vez mais apenas nossas mas igualmente saborosas, feitas de descobertas e redescobertas, de muitas conversas, de caminhadas interiores e exteriores. De ajustes e reajustes, nesta aprendizagem mútua que nos vem da percepção que seremos cada vez mais - e mais saborosamente - nós.

E isto, tudo isto, é, verdadeiramente, tempo de Páscoa, tempo de Passagem, tempo de mergulhar da vida para que deste mergulho possa sair Vida.

Deus seja louvado!

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