20181112
Eu gosto dos últimos. Sempre gostei. Talvez porque sejam os meus, o meu meio, aquele onde me situo com maior facilidade, aquele onde eu posso ser eu de peito aberto. Nos últimos existe apenas a realidade, quase sempre de forma bruta, pouco trabalhada, primária, e isso confere alguma tranquilidade. Com os últimos tanto posso receber um abraço como um banano, vindos do nada. Há ali autenticidade. Nos gestos, nas palavraa, nas ações. Gostas, gostas; não gostas, adiante que atrás vem gente. Não é uma questão de gosto, portanto. Talvez de inquietação. Talvez porque quando a balança pende demasiado para um lado eu tenda a olhar para o outro lado. Talvez porque muitas vezes prefiro olhar o olhar das pessoas quando olham um acontecimento que olhar o acontecimento em si. A verdade é que ao longo do fim de semana me dei a perguntar quem são, hoje, os últimos. Sobretudo para nós, cristãos, católicos. Quem são hoje os últimos? Pensamos imediatamente nos que atravessam o mediterrâneo tendo a vida por um fio, pensamos naqueles com que nos cruzamos a dormir nas soleiras das portas, eu penso logo nos miúdos, nos meus miúdos do RAIZ. Esses são os que me vêm à cabeça. Mas, armado em advogado do diabo, dei comigo a pensar nos outros, naqueles em quem normalmente eu não penso quando penso nos últimos. Nos trumps desta vida que fecham fronteiras, que vivem à custa dos outros, que exploram os outros, que conhecem as aparências e nelas chafurdam. Nos Patinhas desta vida para quem a felicidade se encontra nas notas e cotações da bolsa. E dei comigo a perguntar-me se aí habita Deus. E dei comigo a constatar que, claro, aí também habita Deus. E dei comigo a perceber que ser-me-ia infinitamente mais difícil ajudá-los a descobrir Deus que àqueles que de tudo necessitam. E concluí que também esses fazem parte, com certeza, dos últimos. Que merecem o nosso olhar. Apesar de tudo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Bambora
Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...
-
Gosto dos Jogos Olímpicos. Desde miúdo que me fascinava a capacidade destes super homens e mulheres capazes de desafiar os limites com uma f...
-
Chegou aqui a pedido institucional. Dez anos, e a vida já num emaranhado de complicações: maus tratos, impedimento judicial de aproximação d...
-
Ainda me espanto! Perante o desafio de pensar num adulto que tenha sido significativo na minha infância e adolescência - no sentido de me te...
Sem comentários:
Enviar um comentário