Hoje voltei à minha Foz. Que estava justamente como eu gosto! Durante aquela quase hora de céu cinzento e mar zangado apenas duas pessoas passaram por mim. Com passo rápido, como eu, porque sabíamos que a chuva tornaria a cair a cada momento. Foi bom voltar a caminhar sozinho. Eu adoro uma boa companhia, uma boa conversa, uma boa partilha de almas em modo peripatético, com uma boa (re)descoberta mútua que concede novas cores a tudo o que nos envolve e dá novos nomes às paisagens que nos testemunham. Mas volta e meia - mais volta que meia - preciso de respirar a sós. Começo-me a sentir abafado, invadido, como se a própria pele deixasse de respirar e preciso de ar puro, de mergulhar nos meus pensamentos, nas minhas fantasias, e construir novos mundos, os meus mundos, que apenas eu conheço, que apenas eu entendo, onde apenas eu pertenço.

Um dos meus filhos quer ir para a força aérea. Ou para a marinha. Ou para qualquer ramo das forças armadas. "Porque lá posso ser apenas mais um." Sorri, sem saber muito bem se isso é bom ou mau sinal. Por um lado não creio que ser apenas mais um seja bom a longo prazo. Mas por outro entendo-o bem. É o mais novo de cinco mais pais e avó e tios e desde sempre teve todos os olhares em cima dele, hiperatentos a tudo o que faz. Pensei que deve estar ansioso por respirar em paz, por poder escolher em paz, por poder assumir as suas escolhas em paz. Sejam elas quais forem!

Uma das minhas filhas vive sozinha desde ontem. Pela primeira vez na sua vida tem uma casa e um quarto e uma cozinha e uma sala e uma televisão e uma casa de banho apenas para si. Sem ninguém que lhe diga o que fazer e como fazer. Sem ninguém que lhe cobre o que fez ou deixou de fazer. Quando cheguei a casa dela só pensava como deve ser bom viver assim. Se eu conseguiria viver assim. Por minha conta. Absolutamente por minha conta. E como isso me transformaria. Seria melhor pessoa? Pior pessoa? Como me moldaria? Quem me moldaria? Como decidiria os meus dias e as minhas noites?

Inquietou-me.

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