20160503
Desprendimentos. Despedidas. Perdas. Dor. Parece que os meus últimos tempos estão de alguma forma ligados a isto. Ontem foi o Lino. Recebera com choque a notícia da sua doença, algures em Novembro. Acumulava-se com outro choque, o do acidente do Jorge, e a sua conjugação faz-me mossa: e se fosse eu? É uma viragem egoísta, eu sei, mas é o que sempre me acontece com tudo o que acontece aos outros: e se fosse eu?
Na semana passada pediram-me para fazer um brinde a recém casados. Quando me estavam a dar a deixa disseram algo como "que seja para sempre". O meu brinde foi simples: "Eu não acredito em casamentos para sempre. Acredito em casamentos de todos os dias. E é a soma de todos os dias que, com sorte e muito trabalho, poderá dar origem ao "para sempre".
Quando fiz meu o que aconteceu ao Jorge e ao Lino coloquei algumas coisas em causa. Que eram as minhas coisas, que eram o meu tudo. E abanei. Não apenas a mim, mas abanei. Tive que abanar, que sacudir, que reavaliar e fazer reavaliar, que acordar e fazer acordar, redefinir e fazer redefinir. E não há acordar sem sentimento de perda, quanto mais não seja do torpor em que às tantas nos descobrimos, em que viver pouco mais é que a mera sucessão dos dias e dos acontecimentos, que nos é até tão agradável de tão previsível.
Adoro caminhar sozinho. Porque nunca caminho só. Comigo caminham os meus: os meus meus mas também os meus amigos. E em todo aquele processo nunca caminhei sozinho. Pegaram-me na mão como quem pega na mão de uma criança e conduziram-me, passo a passo, pé ante pé, levando-me ao que me fundamenta, fazendo-me recordar os quem eu sou e trazendo-os de volta.
Não há despedidas sem dor. Sem um profundo sentimento de perda, sem a companhia da culpa, sem o desejo inconfessado de preferir estar num outro lugar, numa outra circunstância, onde todas as peças se pudessem encaixar sem a inevitabilidade da escolha.
Ontem foi o Lino. Mas parece que os meus últimos tempos estão todos ligados à perda.
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Bambora
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