20140609


Sempre fui muito mais da palavra que da ação. Curioso, sendo eu gago! No entanto, sempre me mexeu muito mais aquilo que lia que aquilo que via fazer. Da mesma forma que sempre me envolveu mais aquilo que escrevo que aquilo que faço. Também nisto sou diferente: eu intuo que gestos leva-os o vento e o que fica são as palavras.
Mesmo com Jesus, o que temos são os relatos dos seus gestos, a sua palavra, ainda que registada por outros, não os seus gestos. Claro que foram os seus gestos, as suas atitudes, que moveram as pessoas, que as tocaram, que as incomodaram. Mas hoje somos tocados por esses gestos e atitudes também pela forma com que nos são descritos e, sobretudo, pela forma com que nos deixamos contagiar pela vida que transborda da Palavra.
Confunde-me, este Papa. E confunde-me porque faz muito pouco uso da palavra, preferindo sempre a grandiosidade do gesto simples. Não faz grandes discursos, não produz grandes escritos, e no entanto usa os meios de comunicação social como nenhum papa o conseguiu fazer antes. Usa o Twitter e, sobretudo, a imagem viralmente difundida como forma de comunicação privilegiada. Escolhe os seus gestos e as suas atitudes para que nos contagiem e nos sensibilizem para a importância do fazer. Até aqui, muito bem.O problema é que os meios que ele utiliza são naturalmente fugazes, são demasiado agarrados ao hoje e ao agora. E gestos que se pretendem fundadores não podem ficar agarrados ao aqui e agora. Daqui por quinze dias esses gestos permanecerão soterrados perante a avalanche de uma outra novidade que se ache gira ou nova ou fora do comum. Também por isso sinto saudade do Papa Bento XVI. Porque o que permanece é ainda e sempre a palavra. O resto, leva-o o vento!

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