20140626
Ontem fiquei a meio do post. Fui surpreendido pela visita de duas pessoas importantes que roubaram tempo ao tempo para me virem dar os parabéns. Olhos nos olhos e sorriso nos lábios. Esta tem sido a maior das novidades dos meus últimos aniversários: muitos amigos que, da forma como podem - benditas tecnologias! - fazem questão de me fazerem sentir que estão comigo neste dia. Confesso que é algo a que não estava habituado. E que é delicioso!
De longe a longe sou assaltado pela infantilidade da calimerice aguda. Passa-me rápido mas quando ataca sinto-me a mais miserável das pessoas à face da terra. Naturalmente, não escapo ao desejo profundo que todos temos de sermos reconhecidos. Talvez a maior das necessidades afetivas comuns: precisamos de quem testemunhe e valoriza a nossa vida, a nossa presença. Por vezes há amores que acabam e amizades que são interrompidas sem que ninguém perceba porquê. E quase sempre é porque faltou essa, mais que vontade, essa necessidade de estar com, de caminhar com, de partilhar e testemunhar a presença, a esperança, o choro e o riso.
Volta e meia ando demasiado absorvido pela superfície para me aperceber da importância que essa presença tem na minha vida. Ontem foi dia de mergulho. Imensas mensagens de parabéns, imensos abraços e beijos, imensas distâncias encurtadas, imensas presenças e recordações, e alegrias das memórias partilhadas. Depois, à noite, os meus mais que tudo na vida reunidos à volta da mesa, como eu tanto gosto! E como a minha mais que tudo sabe que eu tanto gosto! Amar é também isso: saber o que o outro gosta, saber o que ele precisa e torna-lo possível.
Ontem, Graças a Deus e aos que me rodeiam, senti-me verdadeiramente amado.
Não podia desejar melhor prenda de aniversário.
20140625
Hoje faço 48 anos. Dia de balanço, por muito que resista a fazê-lo, por muito que queira que este dia seja um dia como os outros. Não é, Graças a Deus. E aos amigos. A minha caixa do Facebook fica cheia neste dia, os abraços e os beijos são mais que os corriqueiros, e os sorrisos também. Como sempre, fico sem jeito, por momentos gostava de passar despercebido, mas não posso fazer de conta que não gosto. Gosto, claro que sim. Porque são genuínos.
Há bastantes anos, este não era nunca um bom dia. Esperava sempre os parabéns daqueles que me eram, na altura, os mais importantes, e eles nunca chegavam. Ou chegavam demasiado tarde! Há coisas que nunca mudam, e essa é uma delas. Foi sendo, por isso, um dia de expectativas invariavelmente frustradas, de desejos nunca alcançados e de desilusões permanentes. Como sempre, fechava-me em copas, refugiava-me em mim e nunca protestava, nem quando ouvia dizer que eu não me importava porque não ligava nada a isso. Há coisas que importam sempre, qualquer que seja a idade.
Com tempo, com muito tempo e muita paciência, a minha mais que tudo e os meus filhos foram refazendo a minha forma de sentir este dia.
20140609
Sempre fui muito mais da palavra que da ação. Curioso, sendo eu gago! No entanto, sempre me mexeu muito mais aquilo que lia que aquilo que via fazer. Da mesma forma que sempre me envolveu mais aquilo que escrevo que aquilo que faço. Também nisto sou diferente: eu intuo que gestos leva-os o vento e o que fica são as palavras.
Mesmo com Jesus, o que temos são os relatos dos seus gestos, a sua palavra, ainda que registada por outros, não os seus gestos. Claro que foram os seus gestos, as suas atitudes, que moveram as pessoas, que as tocaram, que as incomodaram. Mas hoje somos tocados por esses gestos e atitudes também pela forma com que nos são descritos e, sobretudo, pela forma com que nos deixamos contagiar pela vida que transborda da Palavra.
Confunde-me, este Papa. E confunde-me porque faz muito pouco uso da palavra, preferindo sempre a grandiosidade do gesto simples. Não faz grandes discursos, não produz grandes escritos, e no entanto usa os meios de comunicação social como nenhum papa o conseguiu fazer antes. Usa o Twitter e, sobretudo, a imagem viralmente difundida como forma de comunicação privilegiada. Escolhe os seus gestos e as suas atitudes para que nos contagiem e nos sensibilizem para a importância do fazer. Até aqui, muito bem.O problema é que os meios que ele utiliza são naturalmente fugazes, são demasiado agarrados ao hoje e ao agora. E gestos que se pretendem fundadores não podem ficar agarrados ao aqui e agora. Daqui por quinze dias esses gestos permanecerão soterrados perante a avalanche de uma outra novidade que se ache gira ou nova ou fora do comum. Também por isso sinto saudade do Papa Bento XVI. Porque o que permanece é ainda e sempre a palavra. O resto, leva-o o vento!
20140606
Nunca fui capaz de conceber uma felicidade de sentido único. Talvez por fugir ao que, à partida, era esperado de mim, ligo muito pouco ao determinismo e intui sempre que apenas a nós nos cabe a responsabilidade da escolha. E que essa escolha é feita de muitos caminhos.
Conheço muitos miúdos que acreditam que o seu futuro está definido. De um e do outro lado das margens da sociedade, curiosamente. Uns acreditam que o facto de terem nascido num bairro social lhes barra o futuro; outros, no entanto, vivem com um sentimento de impunidade que lhes advém dos lugares que lhes estão reservados nos escritórios dos pais e dos avós. Ambos estão, no entanto, profundamente enganados!
Marcou-me uma conversa de um miúdo com quem fui a Taizé. Dizia-me ele que o seu futuro estava completamente definido: presidente da associação de estudantes do colégio, presidente da associação de estudantes da católica, lugar de destaque nos jotas, deputado pouco depois. Confesso que tremia de cada vez que pensava que os destinos do que quer que seja pudessem estar confiados a uma pessoa assim. Há cerca de quinze dias voltamos a estar juntos. Veio cumprimentar-me, já bem bebido, como é seu hábito. Perguntei-lhe como estava a vida e ele respondeu que tinha sido "convidado a sair" da católica e estava numa outra faculdade, agora. Confesso que suspirei de alívio ao perceber que o seu futuro, afinal, não passaria pelo governo da coisa pública.
Na outra margem, sou amigo de um ainda miúdo que, quando era pequenito, eu dizia que tinha tudo para ser psicopata. A quantidade e qualidade de disparates era tanta que eu não conseguia ver outro futuro nele. Tonto! a vida encarregou-se de me desmentir e ele hoje é uma das pessoas que admiro e com quem tenho o privilégio de aprender muito todos os dias. A forma como fala com os miúdos, como os respeita e não desiste e a forma como eles o respeitam sem necessitarem de berros tem-me ensinado bastante. Está agora a terminar o 12º ano e pensa em ir para a faculdade. Quem diria!
Trabalhar nos lugares onde trabalho está-se a tornar uma inesperada escola de vida. Poder lidar, no mesmo dia, todos os dias, com ambas as franjas de uma sociedade que teima em ser madrasta permite-me ter uma visão suficientemente realista para poder fazer algo para que ambos os lados se encontrem em algum lugar mais profundo.
Ainda estou a tentar ler, a tentar apender, a tentar descortinar o que hei de fazer e como o hei de fazer. Sei que tenho tempo. Não estou de passagem.
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