20121030


Enganei-me. Lamentavelmente! E enganei. Ainda mais lamentavelmente! Pensei - e espalhei - que bastaria ver-te por aqui, ler-te por aqui, ir sabendo, por vias travessas, da tua vida, das tuas aventuras e desventuras, das tuas noites mal dormidas, do imenso trabalho que te envolve, do que te torna feliz e te desespera. Pensei que bastaria roubarmos tempo ao nosso tempo para trocarmos alguns sms e nos sentirmos novamente juntos, íntimos na amizade profunda que nos une. Pensei até que bastariam algumas promessas de encontros e desencontros para alimentar a esperança de voltarmos a sorrir olhos nos olhos, de voltarmos a partilhar aquelas conversas sobre tudo e sobre nada que apenas temos com quem verdadeiramente confiamos, com quem verdadeiramente gostamos.

Enganei-me. Lamentavelmente! Vejo as tuas fotos no Face e sinto saudades dos nossos olhos, das nossas conversas, dos nossos sorrisos.
Há coisas que nunca poderão ser substituídas.
Ainda bem.
É um bom motivo para voltarmos a estar efectivamente juntos.

20121017


Não sou homem para hoje, Dia Mundial da Pobreza, colocar aqui uma foto de alguém miserável. Detesto a instrumentalização das pessoas, nem que seja para conseguir chegar a uma boa causa, como esta da partilha efectiva. Este é um assunto demasiado sério, ainda para mais nos dias que correm, para ser tratado com ligeireza. Noutros anos refere-se muito a "pobreza de espírito", sempre profusamente distribuída aos outros e sempre à míngua em nós próprios. Este ano, porém, ninguém se atreve a fazê-lo.

Nos dois últimos anos testemunhei várias experiências de pobreza. Estive em Moçambique, onde a necessidade tem contornos que estão muito longe do imaginário daqueles que a tudo assistem alapados no sofá. Aos moçambicanos falta tudo, absolutamente tudo, a começar pela consciencialização dessa falta, - por isso são tão alegres (atenção: alegres, não felizes, que isso é outra coisa completamente diferente!) Não têm comida, não têm roupa e, fundamentalmente, não têm educação. Foi lá que confirmei que nos podemos habituar a comer e a vestir o que calha mas que se não nos ensinarem a aspirar mais alto, viveremos toda a vida a viver como calha. A educação é absolutamente fundamental para conseguir dar o salto. 

Mas não foi apenas lá, em terras de África, que testemunhei a miséria profunda. Este ano, no Domingo de Páscoa, fui no compasso. Visitei casas miseráveis onde vivem pessoas para quem o desespero é visita quotidiana, com a consciência plena que são o lixo que varremos para debaixo do tapete. Pessoas que vivem miseravelmente, cujas reformas não chegam nem para pagar a sopa do jantar, quanto mais para pagar os medicamentos que os impediriam de cair aos bocados nos últimos anos das suas vidas. Quase as mesmas pessoas que agora aparecem todos os dias na nossa Paróquia para poderem comer uma sopa quente e irem mais aconchegadas para a cama. E só não são as mesmas porque muitas delas não têm capacidade para chegarem à Mesa de São Pedro. 

Gostava de poder dizer que estas são histórias de vida, mas são tudo menos história. São vidas vividas, efectivas, omnipresentes, numa pequena vila mineira a 6 kms do Porto. São vidas vividas junto à nossa porta, na nossa rua, na nossa própria família. Hoje, infelizmente, a miséria não é um eufemismo. É uma realidade dura, nua e crua, que se aloja debaixo da almofada e contribui para que as nossas noites sejam negras.

20121016


Aconteceu-me já muitas vezes. A última foi na semana passada, numa das nossas reuniões da Pastoral Familiar, lá na Paróquia. Disse algo como isto "sou muito menos teórica que o Zé". Sei bem de onde vem esse epíteto, que, não pretendendo ser insultuoso, também não tem qualquer pretensão a ser o seu contrário. Porque gosto de coisas de que mais ninguém gosta, como gosto de ir ao fundo das questões e de encontrar respostas para as minhas imensas perguntas e entendi que a melhor forma de o ir conseguindo é estudando e lendo - ainda que essa seja a forma de me levantar novas questões - porque a partir de determinada altura da minha vida percebi que só poderia descansar a cabeça na almofada se seguisse esse, que é o meu caminho, sou frequentemente visto como um ser lunático, um sonhador, um idealista que não se rege pelas leis da física. 

E às vezes sou.

No entanto, por muito que estude estas coisas da fé, por muito que as tente entender, por muito que procure razões de acreditar, nunca esqueço que é na simplicidade que O encontro. Muitas vezes ando entretido com os meus botões, fechado no meu raciocínio, e um qualquer sorriso de uma qualquer pessoa, um qualquer gesto de um qualquer perfeito desconhecido, desbloqueia-me os sentidos e volto a despertar para o que verdadeiramente interessa: a vida vivida. Sem tretas.

20121010



Lentamente, como quem não quer a coisa, vai-se reinstalando a necessidade de escrever. Vou aprendendo com o tempo a irrelevância da vontade nestas coisas da minha escrita. Não adianta nada sentar-me ao computador, não adianta nada puxar pela cabeça, não adianta nada pensar que "já não escrevo nada há tanto tempo!"  para que as coisas funcionem. A minha excrita vive muito de sensações, de procuras e desejos, e, fundamentalmente, de necessidades. Há alturas em que tenho mesmo de escrever, nem que seja sarrabiscando numa qualquer folha de papel. Noutras, porém, o tempo é outro, é de busca, de recolha, de ler, ler, ler, ver, ver, ver, preparar e voltar a preparar, delinear e projetar. Nestas alturas funciono como uma esponja, como um esfomeado que tudo recolhe para comer, sem qualquer critério, onde tudo o que vem à rede é peixe. Depois, já cheio, enfartado, começo a sentir necessidade de processar, de escolher, de separar o trigo do joio para ficar com aquilo que realmente vale a pena.

Lentamente, como quem não quer a coisa, esse tempo vai chegando. Ainda bem. Não gosto da sofreguidão de viver. Gosto muito mais da reflexão. É a minha praia.

20121004


Não me lembro de desejar tanto um fim de semana. E alargado, ainda por cima!

tenho andado num ritmo completamente estúpido.Não há outro termo, mesmo. Reuniões em cima de reuniões, ensaios em cima de ensaios, listagens e mais listagens, como se o mundo acabasse já amanhã. O curioso é que, no início deste ano, nos prometemos mutuamente a abrandar o ritmo, a fazer as coisas com mais calma e, sobretudo, nunca mas nunca marcar nada ao Domingo. Pois sim! Há sempre um Encontro de não sei o quê, um ensaio, um conjunto de pessoas que conta com a nossa presença para fazer algumas daquelas coisas que passada uma semana ninguém se lembra.

Hoje, o que me apetecia mesmo era descer a Avenida e recuperar forças junto à Foz enquanto o sol se ia deitar. No entanto, o que me espera é ir a pé daqui até à Casa da Música, apanhar aí o Metro e deixar-me levar quase até casa, onde me espera uma francezinha. Depois lá terei que ir com a ganapada lá de casa ver Os Azeitonas, que eles já falam nisso há 15 dias.

Mas o melhor mesmo é que amanhã, como não é dia de Missa, sei que, sem necessidade nenhuma, vou acordar para aí ás 6 da manhã sem conseguir dormir mais e depois vou andar a penar o dia todo.

Estou mesmo a ficar rabugento!!!
E a idade ;-))))

Bambora

  Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...