Dizia eu ontem a um miúdo - estou na idade em que todos abaixo dos 30 são miúdos - que o "Para Sempre" me assusta. E desde sempre que assustou. Porque este sempre nem sequer é exatamente verdadeiro quanto ao passado - provavelmente houve alturas em que o para sempre não me assustava assim tanto - quanto mais quando perspetivamos ou nos comprometemos com o futuro. O Para Sempre é a manifestação de um desejo e, nas melhores hipóteses, um compromisso. Mas na verdade não faz grande sentido. Porque nos aprisiona, porque nos rouba a liberdade de, a cada dia, podermos escolher, porque nos obriga a cumprir algo que foi decidido ao passado independentemente das circunstâncias do presente. E eu, se aprecio imenso o compromisso, não gosto da obrigatoriedade. Há uns anos pediram-me para fazer um breve discurso para dois amigos que tinham casa há pouco tempo. E eu, de improviso, disse-lhes que não acreditava em casamentos para sempre, mas em casamentos de todos os dias. Porque é todos os dias que vivemos, é todos os dias que fazemos escolhas, é todos os dias que nos comprometemos ou não, é todos os dias que fazemos o balanço do que tem sido a nossa vida até ali e projetamos o amanhã. Claro que não renascemos a cada dia nem apagamos a nossa história assim que adormecemos. Seria terrível se isso acontecesse. Claro que há pessoas que estão e estarão na nossa vida para sempre, por pouco que as consigamos ver no quotidiano. Claro que há corações e almas e interiores que habitamos e temos o privilégio de sermos habitados por outros. E que isso acontece, dias a fio, semanas a fio, anos a fio, com cada um dos que nos habitam a montarem tenda cá por dentro. Mas nenhuma dessas pessoas que me habitam decorre do Para Sempre mas das boas e más memórias, das longas ou curtas conversas, dos gestos, dos olhares, da caminhadas que a vida nos permitiu.

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