Ontem, em Mafra, foi coroada, pelo D. Tolentino Mendonça, a Senhora da Soledade. Na verdade, confesso que não faço ideia se é assim que as coisas se dizem, porque não conheço nem tenho particular interesse em conhecer o protocolo destas coisas. Não é que considere que elas não sejam importantes - sê-lo-ão certamente para muita gente boa - apenas que não me dizem grande coisa. Provavelmente ditado e condicionado pela vida que vou vivendo, percebo que atribuo muito mais significado a um cristianismo de pés no chão e cabeça no alto que o seu contrário. Pelo menos nesta fase da minha vida, que é feita de leituras e estudo mas tendo sempre como objetivo último a operacionalização do que leio e estudo. Sem, no entanto, desvalorizar minimamente tudo o resto porque ambas as coisas são necessárias e até fundamentais na Igreja. É preciso quem faça e é preciso quem estude e é preciso quem reze e é preciso quem cuide e é preciso quem mastigue e entregue o que outros estudam e leem. E isso é bom. Mas é esta uma das nossas dificuldades em Igreja: atribuímos cadeirões em função daquilo que pensamos ser o nível de importância de cada um ignorando ostensivamente que os dons do Espírito são entregues com o mesmo amor e com o mesmo propósito: servir o melhor que sabemos e conseguimos. O resto é coisa dos homens, não de Deus.

Há duas semanas estava numa belíssima formação na qual estava presente um dos bispos da minha cidade. Tudo normal, até ele se levantar e sair, continuando nós o trabalho. Na altura em que o bispo se levantou, levantaram-se quase todos os presentes, o que me surpreendeu - não sou nada dado a protocolos. Teria sido, provavelmente, uma questão de respeito. E teria entendido se, a cada pessoa que se levantasse ou chegasse nós nos levantássemos por respeito. De outra maneira, não faz sentido para mim. E poderia ser apenas um pormenor, se na realidade não tivesse reflexo na qualidade do trabalho que, nós leigos, desempenhamos. Mas tem. Efetivamente tem. Porque muitas vezes esse respeito especial pelos nossos bispos e nossos sacerdotes e nossos religiosos e religiosas se traduz em respeitinho, e isso muitas vezes impede a troca de ideias de forma clara e aberta. E isso, claro está, faz com que se diga à boca pequena o que não se tem - por respeito, claro - a coragem de dizer olhos nos olhos, de forma aberta e honesta. E nem considero que a responsabilidade esteja sempre nos outros, mas em nós, que entendemos que discordar de uma decisão ou de uma visão é uma questão de respeito. Não é. É uma questão de vida. Que será tão mais rica quanto melhor e mais abertamente partilhada.


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