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Volta e meia preciso de parar um pouco a meio desta subida, aliviar o peso que carrego, e sentar-me apenas o tempo suficiente para poder olhar em volta e apreciar a paisagem. Naturalmente, começo por olhar para baixo, para o caminho já percorrido, agora feito memória. Rapidamente recordo os lugares onde as pernas fraquejaram, onde os pés paralisaram e apenas avancei à custa de mãos estendidas. As minhas e as de quem mas deu. Na verdade, fui aprendendo que caminhar tem muito mais a ver com mãos que com pés, e que tem sempre a ver com dores. As minhas feitas dos outros, e as dos outros feitas minhas. Olho distraidamente em volta e surpreendo-me com a paisagem. Que descubro sempre nova, nunca antes por mim vista. Na verdade, tenho o terrível hábito de caminhar de olhos postos no chão e cabeça a vaguear lá por cima. No meu absorto peripatetismo, a paisagem desempenha um  papel completamente secundário. Os sons, os cheiros, as cores, acontecem lá fora, muito longe de mim, e acontece-me muitas vezes ficar surpreendido quando levanto a cabeça e acordo da minha letargia profunda. A paisagem à minha volta nunca me despertou grande interesse e raramente consigo fixar nela o meu olhar mais que alguns minutos. E olho para cima, para o caminho que me falta. Não vejo grande coisa, e sei que o caminho me reserva surpresas, algures. Não que adiante de muito preparar-me para elas - se o conseguisse já não seriam surpresas mas expectativas - porque sei que, depois da minha primeira expressão de desagrado - não gosto de surpresas - acabarei por lidar com elas, avançar e, eventualmente, a apreciar as suas consequências. 

Já chega de descanso. Vamos a isto.


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