- Como é que fazes com que o barco não caia?
- Sonho com muita força. A força de vontade segura-nos.
- E como é que é possível fazer com que o céu seja mar?
- Cada um escolhe onde quer navegar.
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Levei (?, levo?) muito tempo a aceitar-me e ao meu percurso de vida. 

Quando percorro a minha história, raramente as coisas são claras. Acontece-me frequentemente - ou acontecia-me, porque deixei de o fazer - provocar olhares duvidosos quando partilho memórias de infância com os meus pais ou os meus irmãos. Eu, que considero ter uma memória prodigiosamente pormenorizada no que a momentos marcantes da minha infância diz respeito - no que se refere a outros acontecimentos porventura menos significativos é um desastre - chego a duvidar se aqueles cheiros, aqueles momentos, aquelas sensações aconteceram mesmo ou foram produzidos algures por entre as imensas e precoces leituras e uma capacidade (necessidade?) de sonhar que, ainda hoje, é muito forte em mim. No entanto, recordo com muita clareza pormenores de conversas, físicos, de situações, que não poderia ter lido em lado nenhum nem fantasiei mas me marcaram profundamente, positiva ou negativamente.

A verdade é que sonho. Sempre! Creio que será mais ou menos comum, mais ou menos consciente, que todas as pessoas sonham. Mas quando olho para trás consigo perceber, ainda que tenuemente, que no meu caso o sonho sempre foi o princípio, sempre foi o impulso, a catapulta, sempre se revestiu de inconformismo e de desafio. A verdade, é que eu preciso de sonhar. Preciso de navegar. Sempre. Por vezes na solidez do chão que piso; por vezes ao sabor do mar que navego; por vezes no céu que me eleva.

Levei muito tempo a aceitar isto em mim. Vai sendo, progressiva e lentamente, menos penoso. Para mim, não para quem me ama. Na verdade, esse é o preço a pagar por quem me ama: tem sempre mais sonho que segurança. Mas não consigo (já não quero?) ser outro senão aquele que verdadeiramente sou.

 

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