Não sou de humildades bacocas. Tento perceber quais as minhas capacidades, o que faço bem e o que faço menos bem, ou não consigo, de todo, fazer com um mínimo de qualidade e, quando me pedem alguma coisa, é justamente com base nesse conhecimento de mim próprio que aceito ou recuso as propostas e pedidos. Soa racional, mas não é apenas racional. Em mim, aliás, nada é puramente racional. Junte-se a isto uma enorme - saudável? - dose de loucura proveniente de um infantil entusiasmo pela possibilidade de ser e fazer com outros, e percebe-se porque tenho muitas vezes a sensação que estou perdido porque me meti numa alhada e dei um passo maior que as pernas. No entanto, é justamente esta saudável e inconsciente loucura que me leva a descobrir em mim capacidades que me desconhecia e a fazer coisas que me julgava impensáveis. E a dar com a cabeça na parede quando não o consigo.

Mas não me ouvirão dizer sim quando o que pretendo dizer é não, ou a dizer não à espera que me peçam com mais força. Quando julgo que posso - e quero - voluntario-me com alguma facilidade e desfaçatez, e cansam-me imenso aquelas pessoas que gostem que lhes abanem ao fogareiro. Da mesma maneira, não é por me pedirem muito que eu mudo de ideias.

Evidentemente, na prática, nem sempre tenho a possibilidade desta clareza. Todos nós, que fazemos parte de instituições, em algumas alturas nos vimos condicionados - pelo respeito, pelo carinho, pela amizade, pela autoridade (muito raramente, na minha vida) - a fazer aquilo que sabemos que não é a nossa praia. E umas vezes isso acontece porque naquela circunstância somos quem está mais à mão, ou todos os outros se encostaram ou então porque vêem em nós justamente aquilo que nós próprios não conseguimos ver. No meu caso, a um pedido desses segue-se sempre um enorme período de sofrimento, e um outro de estudo profundo, num ambiente interior de enorme insegurança. E, invariavelmente, não gosto de mim nesse desconforto generalizado. Até pode correr bem, até posso crescer, até posso desempenhar um bom trabalho, mas, no final, não me sinto compensado. 

É que eu, normalmente, gosto mais, muito mais, da viagem, e tendo a menosprezar o destino. E é-me sempre muito mais gratificante apreciar as pequeninas coisas do quotidiano que a eventual (e, para mim, sempre fugaz e efémera) glória da vitória. Que nunca compensa que tenha perdido a alegria do percurso.

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