Mesmo com o meu habitual otimismo, não há maneira de conseguir sentir que este foi um bom ano. Vi demasiadas vezes o desespero e a dor nos olhares daqueles para quem trabalho para que possa ter a veleidade de fazer as pinturas que faço sempre para dar novas cores à minha realidade. É que, desta vez, nem se trata da minha realidade mas da realidade que acontece fora do meu exacerbado umbigo. Talvez por isso, ao longo deste ano as coisas boas nunca foram inteiramente boas, foram sempre acompanhadas de um espectro que pairava, permanentemente, e que quase me fazia sentir envergonhado quando me alegrava com o que me faz alegrar, como se não tivesse sequer o direito de o fazer. Ao longo deste ano dificilmente me sentia bem sem sentir uma pontada de dúvida: será que não estou a ser egoísta? Creio que esta será a marca deste ano, um pouco como calculo que será a marca deixada pelos estados de guerra, quando as pessoas têm mesmo, por questões de sobrevivência, de fazer um esforço para se alhearem do que se passa "lá fora", sendo que, nesta nossa guerra, o "lá fora" é a casa do vizinho, quando não é a casa de um familiar menos próximo. 

Este é, por isso, um ano para não esquecer. 

Curiosamente, hoje, estou com muito pouca vontade de recomeçar, o que é bastante inusitado da minha parte. Nem de recomeçar, nem sequer de começar. Não me apetece nada fazer o habitual reset para sentir renovadas energias e iludir vontades. Hoje, curiosamente, apetece-me permanecer. Sem cortes, sem ruturas, sem novas decisões de ano novo, mas, pelo contrário, assumindo e agarrando-me ao que é meu, verdadeiramente meu, sendo inteiramente eu. Agarrar-me aos meus, aos que amo, à minha fé, aos meus valores, à minha bússola, aos que comigo fazem o meu caminho, àqueles por quem batalho e com quem batalho, aos que ensino e com quem aprendo, congregando energias e balanço, como naquele movimento de finca pé que impulsiona antes do salto. Hoje apetece-me olhar para dentro, para os imensos que me habitam, e agradecer-lhes. E agradecer. Agradecer muito. Foi um ano duro. Muito duro. Mas estamos aqui. Preparados para o que der e vier. 

Venha ele.

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