Detesto a sobranceria. nos outros. Odeio a sobranceria. Em mim. Às vezes tenho a mania e apanho-me a ter a mania e fico sempre muito desiludido e zangado comigo quando isso acontece. Hoje foi a propósito de uma foto do Goucha e do Carreira. A legenda referia qualquer coisa como dor e lágrimas e o meu primeiro impulso interior foi sarcástico. Dois segundos depois arrependi-me, mas a verdade é que esse primeiro impulso interior esteve lá. Como está sempre. Não falha! Nunca! Infelizmente!

Conheço muitas pessoas genuinamente boas. Que se preocupam genuinamente. Que se comovem genuinamente. Pessoas cuja batalha interior vai no sentido da necessidade absoluta de refrear a compaixão fazendo um apelo ao racional que há em si para que possam manter a camisola em cima do corpo. Conheço-as, vivo com elas, trabalho com elas, tento segui-las. Porque não são essas as minhas batalhas. As minhas travam-se, invariavelmente, e para desgraça minha, em sentido oposto. O meu primeiro impulso é sempre, sempre, umbilical. Sempre, sempre, na tentativa de não ver, nem que para isso recorra ao sarcasmo e à desvalorização completa do que me rodeia. É certo que, em boa verdade, a minha primeira ação contraria sempre esse primeiro impulso e co-movo-me facilmente em direção ao outro. Mas é sempre trabalhado, racional, consciente, contrariando todos os meus instintos. Por isso os outros são tão importantes na minha vida. Por isso a fé fé tem uma importância absolutamente fundamental e indispensável na minha vida. Sem eles, sem ela, eu seria, conscientemente, má pessoa. E viveria, miseravelmente, na ilusão da felicidade.

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