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Não é fácil amar à distância. Não é fácil prescindir do toque, do cheiro, do olhar sem filtros que nos assegura que está tudo bem, que estamos bem, que nos amamos, ainda que não o digamos. Não é fácil tentar descortinar, por entre mensagens, por entre conversas mais ou menos encriptadas, por entre ecrans, o estado de espírito daqueles que amamos. Não é fácil manter aquelas ínfimas e íntimas conversas sobre coisa nenhuma, que são as grandes conversas de quem se ama ao ponto de sentir necessidade de partilhar confortavelmente a coisa nenhuma, porque a vida de todos os dias é feita de inúmeras coisa nenhuma, e quando se ama o que se partilha é tão só a vida. Não é fácil superar a ausência do olhar in vivo, da voz in vivo, do calor in vivo, porque ainda que se invente o mais admirável objeto tecnológico que roube a distância, na verdade apenas fingimos que a distância não importa, que a presença do olhar, da voz, do calor, são completamente outras, incomensuravelmente mais intensas e verdadeiras, quando estamos ao alcance dos nossos dois braços que partem ao encontro um do outro.  

Não é impossível amar à distância. Porque o amor não se faz apenas da proximidade física, do embate de corpos, de olhares e cheiros e toques. Porque o amor não se faz apenas de encontros e desencontros mais ou menos fugazes, mais ou menos datados no tempo, mais ou menos condicionados pelas circunstâncias. Não. Não é impossível amar à distância. Porque o amor, o que arde sem se ver, é. O Amor é. Assim mesmo. É. E é para sempre.
 

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