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Liguei ao meu pai. Não é muito hábito em mim, ligar aos meus pais. Vivemos a curta distância mas passam-se meses sem nos visitarmos mutuamente. Agora, a propósito do covid, falamos mais, contactamos mais. E isso é bom. Ha uma ressintonização, uma reidentificação, um reconhecimento mútuo que a vida agora se vai encarregando de pôr no devido lugar. E isso deixa-me mais tranquilo, mais sereno, mais resolvido em todas as minhas diatribes interiores que por vezes dão horas às minhas noites.
Há coisas que não me definem no quotidiano mas acabam por me definir na vida. Essa convulsão interior não me impede - a maior parte das vezes - de ser feliz nem de fazer as coisas, mas a serenidade muda a forma como as faço e sinto. É como a harmonia de uma paisagem: quando não existe eu até posso gostar do que vejo, mas quando não há caos, quando tudo se conjuga nas cores e nos espaços, desperta em mim um sentimento de gratidão pela beleza, com aquela saborosa sensação que tudo está onde devia estar.
Foi isso que senti quando a minha avó morreu: que estava tudo no seu lugar. Tínhamo-nos aproximado nos seus últimos anos de vida, ainda a tempo de termos deliciosas conversas, que me deixaram melhores memórias. Quando morreu, morreu em paz e deixou-me em paz. De certa forma, é uma pouco essa a aproximação que está a acontecer relativamente aos meus pais. Á nossa maneira, ao nosso ritmo, retomamos conversas e construímos novas memórias, pacificando-nos no caminho.
E isso é bom.
E faz-me feliz!

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