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Ainda andam cá por dentro os oito minutos e quarenta e seis segundos. Os últimos do George Floyd. Hoje na rádio perguntava-se porquê esses e não outros, os milhares de outros que morrem de maneira igualmente infame. Para mim a questão é simples: eu vi estes. Sim. Não será politicamente correto afirmar, mas é isso que acontece comigo.
Já referi aqui várias vezes a mobilização que me encheu de orgulho na altura em que todos nós nos levantamos por Timor. Sabíamos há muito o que lá acontecia, sabíamos das mortes e do desespero e do desrespeito pela vida. Mas nós nos comovemos quando ao som das balas se juntou o som da oração do terço em bom e percetível português. E fomos a correr ver as imagens e acordamos. foi preciso ver e ouvir para que o que se passava do outro lado do mundo tivesse a ver connosco.
Não andamos muito longe disto, neste caso. Vemos, comovemos, achamos inconcebível, como se lidássemos com o desconhecido. Daqui a alguns dias avançaremos para outra. Por vezes concordo com o Papa Francisco e acho que andamos adormecidos pela globalização e pelas redes sociais. No entanto, quando páro para pensar, pergunto-me quantos portugueses saberiam, na altura, da batalha de Luther King, ou de Gandhi, ou o que se passava nos campos de concentração das ditaduras europeias. Ou quem saberá, hoje, o que se passa no coração da China ou da Coreia do Norte. É certo que o excesso de informação nos poderá adormecer num mundo em que os atos de violência parecem galos a cantar ao desafio. Mas, ainda assim, prefiro saber a ignorar. O excesso de informação não é o ideal mas é incomensuravelmente mais desejável que a falta dela.

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